abril 30, 2008

A notícia. São 3!!!

Eu estava no laboratório de informática, iniciando um curso de atualização quando o celular tocou. Já estava esperando a ligação e me levantei para atender fora da sala. Oi, Bia, falei, mal podendo esperar pelas noticias que viriam do outro lado da linha, e aí? Você está sentado? Ela perguntou. Espera um pouco, eu falei, de fato procurando um canto para sentar. Fala. São três, ela disse, com a voz entre amuada e embargada, quase chorando mas querendo segurar o choro. Três! eu disse, não acredito, que loucura, como é que pode, Bia? Mas que p.... é essa? Pois é, ela respondeu, eu é que pergunto que p.... é essa! Desliguei o telefone rindo da piada que a Bia tinha feito. Rindo pra não chorar, porque a vontade mesmo era enfiar a cabeça entre as pernas e chorar. Chorar de emoção, de medo, de desespero, chorar por todos os motivos do mundo. Com os olhos marejados eu ria. Pois é, que p.... seria essa?

Entrei na sala para pegar minhas coisas, pedi licença e sai sem dar muitas explicações. Que explicações poderia dar naquele momento sobre o imponderável, o inexplicável, o incompreensível, o sobrenatural? Eu procurava por respostas e sai atordoado pelos corredores da universidade em direção ao carro. Teria cinqüenta minutos de viagem pela frente até chegar em casa e não sabia que pensamentos iria enfrentar. Acho que foram os cinqüenta minutos mais atribulados que tive até hoje na vida. Tive flashes de tantas coisas, de tantas épocas do passado, revi passagens com meu pai, com meus avós, revi toda minha vida com a Bia, desde o casamento, desde o namoro. Voltei muito longe para trás, fui muito à frente tentando prever o futuro imediato e o futuro longínquo. Como seria uma gravidez de três? Como a Bia iria se sentir? O que seria de nós, de nossas vidas? Como poderíamos cuidar e sustentar três de uma vez só? O que seria dessas crianças no futuro? E o nosso futuro?

Esses são daqueles momentos temerosos na vida. Quando se está dirigindo o carro, uma atividade tão rotineira, por um caminho mais do que conhecido, percorrido todos os dias e que se pode fazer de olhos fechados. Literalmente não sei como cheguei em casa, não me lembro de nada do caminho, de ter parado em um sinal, nada. Cheguei atônito, atordoado, a beira da inconsciência! Estacionei o carro e subi pelo elevador. Entrei sem saber o que dizer. Queria olhar para a Bia, ver o que seus olhos diziam, sentir um pouco o clima dela. Andei em silencio até a sala onde ela estava, olhei para ela e seu rosto, seus olhos me diziam tantas coisas que foi o mesmo que não dissessem nada, não consegui decifrar nenhuma mensagem clara, definida, legível em suas expressões. Três! Bia. E agora? Perguntei. Ela me abraçou sem dizer uma palavra e ficamos assim sem saber o que dizer.

4 anos!

Pois é, quatro anos se passaram. Não sei dizer se passaram rápido ou devagar. A sensação do tempo, da passagem do tempo, de tão relativa, me parece que sofre variações. Pelo menos no que diz respeito aos filhos. Para algumas situações a impressão é que o tempo simplesmente voou. Para outras, parece que levou uma eternidade. Há ainda aquelas situações em que o tempo que passou parece que foi aquele tempo mesmo, nem mais rápido, nem mais lento.
Quatro anos bem cheios, isso posso afirmar com certeza. Talvez os anos de maior intensidade em toda a minha vida. Olhando pra trás agora, sinto que alguma coisa já se perdeu, algumas lembranças já se embaçaram na memória, ficando para trás, guardadas num canto que só vou mexer muitos anos mais tarde. Olhando pra frente, prevejo muitos anos tão intensos quanto foram esses quatro. Olhando para o espelho, vejo que mudei muito, bastante e que as mudanças por vir virão de forma acelerada.
A idéia de escrever sobre essa experiência não é nova. Pensava na possibilidade bem antes dos três nasceram, quando ainda eram uma notícia na barriga da mãe. E foi uma noticia das mais efervescentes que já recebi. Me deixou num misto de pânico e felicidade, numa mistura não dosada de ódio do imprevisível e temor pelo futuro, numa combinação da sensação de plenitude com o sentimento de impotência. Mas, essas mesclas de sentimentos sem padrão são de fato a vida, fazem com que a vida tenha sabor e graça. A questão é que não se percebe isso no dia a dia, na balada ritmada do cotidiano. Essa montanha russa de fato aparece quando algo fora do comum acontece, nos jogando pra cima e pra baixo, passando por loopings alucinantes que causam um certo enjôo e por picos de altura de dar frio na barriga.
Pois é, vieram três. Trigêmeos. Totalmente sem querer. Uns dizem, que é uma benção, uma graça, outros dizem que fomos escolhidos, premiados. Uns desconfiam que não foi um processo natural, outros fazem previsões das dificuldades da criação de três ao mesmo tempo. Uns ficam maravilhados, uns ficam invejados, e há até os que ficam horrorizados com tanta gente. Porém ninguém fica indiferente. Eu mesmo passei por vários estágios nesses quatro anos. Tive meus momentos de incredulidade: ‘será possível que não fizemos nada? Não pode ser, trigêmeos?’ E tive momentos de pessimismo: ‘será possível criar esses três ao mesmo tempo, como daremos conta de todas as responsabilidades dessa tarefa?’ E ocasiões de profunda alegria que me deixaram babando nos três, e algumas de angústia com a fragilidade da vida que me fizeram chorar.
Apesar de tudo isso, estou aqui, estamos aqui, os três, minha mulher e eu, vivendo, sobrevivendo. Aprendendo a viver uma vida que não foi planejada. Inventando todos os dias a melhor maneira de viver essa grande surpresa. Descobrindo a cada minuto como transformar os fatos da vida em energia para continuar vivendo. Nossa vida se tornou um aprendizado constante, uma invenção diária cheia de descobertas.
A partir de agora começo a contar essa história. Confesso que fiz um plano genérico, nada detalhado, porque sei que pelo meio do caminho vou tomar outros rumos, querer contar coisas que antes não lembrava ou novidades recém acontecidas. Não pretendo fazer um diário, seguir uma linha cronológica, estabelecer temáticas para serem esmiuçadas. Vamos indo, passo a passo, procurando contar de um jeito que faça sentido. Então, vamos ver como fica...