agosto 28, 2008

A primeira professora

Dizem que a primeira professora a gente nunca esquece. Eu nunca esqueci a minha. A professora Maria Luiza, do Colégio Pio XII, em São Paulo. Não sei o que é que de fato nos faz lembrar da primeira professora. Talvez sejam muitas coisas, como o carinho que ela nos dá, a sabedoria que ela representa, o fato de ser a segunda mulher mais importante na vida de uma criança. Pra uma criança de 6 ou 7 anos, a professora é a pessoa que mais sabe coisas que se conhece, ela é, como se diz hoje, tudo de bom. Afinal, ela nos ensina os códigos fundamentais para conhecer todo o resto: as letras e os números! Acha pouco? Já pensou nisso? É demais, não é? E a professora Maria Luiza, que eu me lembre, era um doce.

[Eu sou o loirinho de oculos pretos ao lado da professora Maria Luiza]

Saí do Pio XII na quarta serie primária, quando vim para Campinas com meus pais. Nunca mais revi aqueles colegas, nunca mais soube nada da professora. E eu procurei saber, mas não consegui nada. Recentemente fiz contato por email com 4 daqueles colegas. E me deu um frio na barriga danado, um nó no peito e na garganta, como se eu estivesse prestes a resgatar uma parte da minha vida que estava perdida. Estou com o telefone deles, mas ainda não tive coragem de pegar o telefone e falar com eles.

Mas não é disso que quero falar, não. Fica pra outra vez falar da minha infância. Só mais uma coisa: lembro de duas outras pessoas que não foram bem minhas professoras mas foram marcantes antes da professora do primeiro ano primário. Uma é a Aunt Vivian. Pois é, lembro de certas imagens da Aunt Vivian, que tinha uma escolinha de garagem numa daquelas pequenas ruas do Brooklyn, em São Paulo. Lembro da entrada da garagem, da pequena sala, que havia algumas outras crianças, que ela tinha cabelos negros [será?], que todas as atividades eram em inglês. Minha mãe talvez se lembre melhor dela. Não era propriamente uma professora nem uma escola. Era um tipo de maternal, uma lugar de recreação em inglês.

Eu tinha por volta de 4 ou 5 anos e acho que minha mãe queria um tempo para ela me colocou lá. Minhas duas irmãs mais velhas já iam à escola e eu devia ficar em casa importunando a vida da mãe. Minha irmã caçula devia estar a caminho ou devia ser recém nascida. Não tenho nenhuma foto do lugar, da sala, que era do lado esquerdo de quem entrava na garagem, depois de passar por um portão de ferro branco à meia altura [será?]. Lembro que minha mãe dizia: 'Vamos na Aunt Vivian?' Lembro que aprendi a contar até 10 em inglês [One little, two little, three little indians...], aprendi algumas palavras, as cores, o básico pra uma criança de 4 anos nos anos 60. Acho que hoje há programas mais hardcore que devem ensinar línguas às crianças de forma mais rápida e eficiente. De qualquer forma, acho que esse contato com a língua me facilitou a vida depois na hora de aprender de verdade.

A outra é minha prima Tetê. Tetê é também minha madrinha e é afilhada de meu pai. Quando nasci, ela tinha 14 anos. Quando eu tinha 7 anos, idade para entrar no primeiro ano primário, ela tinha 21. E foi ela quem me alfabetizou, em casa, antes de entrar no Pio XII. Não lembro exatamente como foi, nem por quanto tempo ela me deu as primeiras lições. Lembro de estar na casa de minha avó Marta, na rua Inglaterra, na mesa da sala de jantar e de ter um livrinho com as letras, silabas e essas coisas. Acho que chamavam isso de cartilha, não? A Tetê já era professora naquela época e depois se transformou numa baita professora, trabalhou no Colégio Gávea e por aí afora. Ela é irmã da Lulu, da Mimi, do Bebeto e da Bia. E filha do Marioto, irmão de meu pai, Noel e de Toni. Quer mais apelido?

Bom, eu queria mesmo falar da primeira professora dos trigêmeos. Porque acho que também não vou me esquecer dela. Primeiro porque era minha amiga na adolescência. E segundo porque me passava uma segurança, uma firmeza no cuidado com as crianças. Eu ficava emocionado ao vê-los interagindo com a Laurita, em ver o carinho que ela tinha por eles e por todas as outras crianças. E sentia total confiança no trabalho que a Laurita desenvolvia. Um dia ela enviou um texto do Robert Fulghum e foi então que percebi o papel da primeira professora na vida dos meus filhos: ‘Tudo o que eu realmente preciso saber aprendi no jardim de infância’ [na verdade é o titulo de um livro do autor].

Foi a Laurita que ensinou a eles a conhecer os princípios básicos que fariam a espinha dorsal de suas vidas. Era ela que os acompanhava e orientava na descoberta da vida em sociedade. E percebi o tamanho e a importância dessa tarefa. Da primeira professora dos meus filhos eu não vou esquecer, porque ela os ajudou a saberem tudo o que precisavam aprender para a vida.

Um comentário:

TT disse...

Otavio

Quanta emoçao ao ler essa declaraçao de sua alfabetizaça! Acompanho o seu blog, e a sua vida desde sempre e agora sua atividade de pai maravilhoso. Que lindo!!!!
Acho que esse sentimento de familia esta enraizado na nossa. Assim como a sua mae, atuo muito com meus filhos e netos, muitas vezes nao sobrando tempo para quem nos e tao querido. Ainda trabalho fora! Sempre acompanhei e acompanho sua vida mesmo de longe. Te amo muito
Sua madrinha
TT