julho 14, 2008

A troca das babás

Em meados de 2005, fizemos uma troca de babás. Foi uma experiência meio traumática. Não, não por causa dos trigêmeos, eles sentiram bem menos a mudança do que eu poderia imaginar. A situação da saída da babá é que foi traumática. Especialmente pra mim.

Desde que comecei a trabalhar sempre desenvolvi alguma atividade em casa. E isso já faz tempo, desde de meus quinze anos, quando comecei a fazer serigrafia. Sempre tive um canto que era meu estúdio, sempre tive um tempo pra trabalhar em casa. Quando os trigêmeos nasceram, além das atividades na universidade eu estava na metade do prazo a cumprir para concluir o doutorado. Ou seja, estava mergulhado no texto da tese, lendo e escrevendo muito.

Pra quem trabalha com textos, lendo ou escrevendo, seja na área acadêmica ou em qualquer outra área, sabe que é necessário tranqüilidade e uma boa dose de silencio sem a qual fica difícil se concentrar e fazer o trabalho render. Agora imagina uma casa com três crianças pequenas, duas babás e, eventualmente, uma avó, uma au pair, uma visita...não havia um minuto de sossego, era barulho o dia todo. E olha que nessa época os trigêmeos tiravam uma bela soneca a tarde. Os meses iam passando e meu trabalho não rendia. Comecei a reclamar do barulho, pedindo um pouco de atenção às vozes altas. Mas não adiantava. Mesmo na hora da soneca, as babás falavam alto, muito alto.

Uma das babás que trabalhava com a gente tinha sido funcionaria do hotel onde a Bia havia sido gerente. Era uma menina animada, pra cima, segundo a Bia com características de liderança. Mas gostava de encrenca, fato que a Bia não levou em consideração por achar que a moca daria conta do recado. E realmente dava, cuidava dos três numa boa, com a ajuda da outra moça. Eu gostava dela, mas a achava um pouco desrespeitosa, havia nas suas atitudes uma certa insolência.

Como eu ficava mais tempo em casa, era natural que desse algumas instruções pras moças que trabalhavam conosco. Mas, como a babá era uma líder, queria fazer as coisas do jeito dela e não gostava de receber instruções. Como eu reclamava do barulho, ela ficou melindrada e começou a não cumprir as coisas que eu pedia. Na verdade, ela queria mandar na casa, fazer as coisas do jeito dela, como ela achava que deveriam ser. E essa situação foi se agravando, até o momento em que não suportei mais a agressividade dela e brigamos, brigamos feio. Ela foi embora, depois de muita briga e escândalo. A outra moca foi embora logo depois.

Depois disso comecei a observar algumas coisas comuns em todas as mocas que trabalharam conosco. Nenhuma delas gostava de receber instruções minhas. Nenhuma delas parecia ficar confortável com o fato de que eu entrava na cozinha pra preparar um ou outro prato. Nenhuma delas achava normal trabalhar numa casa em que um homem também passa o dia trabalhando. Essa é uma teoria muito particular, mas acho que tem fundamentos. Não sou sociólogo, mas acho que tenho alguns argumentos que podem ser facilmente confirmados pelas ciências sociais.

As mulheres são machistas a ponto de achar que homens não podem ficar em casa, trabalhar em casa. Homens na cozinha, então, incomodam os lugares mais recônditos da alma feminina. Homens dando instruções de como cuidar da casa, bom, aí é demais pra elas, elas não conseguem suportar. Acho que isso é cultural, nossa sociedade é matriarcal, a casa é lugar de mulheres, os homens devem sair, pra trabalhar, pra caçar, pra viajar, explorar, ir às guerras ou até mesmo vadiar, arrumar outras mulheres, qualquer coisa, menos ficar em casa. Claro, essa é a história da humanidade, foi assim desde o início dos tempos, isto está enraizado na memória coletiva de todos, é difícil quebrar paradigmas. E também claro que essas são generalizações grosseiras a partir de uma experiência muito particular. Mas as ciências são feitas a partir de generalizações.

As crianças tinham por volta de um ano e meio e não sentiram muito a mudança. Em poucos dias já tínhamos uma nova babá nos ajudando e essa merece um capítulo a parte. O saldo, pra mim, foi positivo. Depois de constatar que as mulheres não suportam homens em casa e de aceitar o fato de que com 3 crianças em casa eu teria que achar outro lugar pra escrever minha tese, aluguei uma sala num prédio comercial antigo no centro da cidade. Então pude entrar na ultima fase da concepção do meu quarto filho e terminar minha tese de doutorado dentro do prazo.

4 comentários:

Pedro disse...

Otávio,

Muito legal seu blog, pra quem gosta de criança é um barato.
Um dia pretendo ser pai e é legal ler as experiências que vc descreve tão bem.


Um abraço!

Gisa disse...

Olá, é a primeira vez que escrevo no seu blog...Bom, parabéns pelo término do doutorado, posso imaginar como a chegada dos trigêmeos mudou a rotina de vocês, pois, se um baby já faz a vida mudar de eixo...(tenho uma linda filha.) Aliás, sei como é trabalhar em casa com filho...também somos professores e trabalhamos muito em casa...O resultado positivo disso, entre outros, é que nossa pequena adora escrever, ler (do jeitinho dela) e pintar....
Abraços,
Gislane

O Lacombe disse...

Pedro,
que legal. Apareca sempre.
abracos

O Lacombe disse...

Oi Gislaine,
terminar o doutorado com gravidez tripla e 3 pequenos foi uma tarefa e tanto...
eh, tudo tem o lado bom, acho que pra criancas pequenas eh bom ter um dos pais por perto.
abracos