fevereiro 27, 2009

mamãe faz anos!

A mãe dos trigêmeos fez aniversário! E as crianças ficaram empolgadas, mas preocupadas com o bolo, a vela, as lembrancinhas, se teriam brincadeiras. Adoraram dar o presente pra mamãe. Festa é festa e tem que ter tudo isso, não é?! No final, não teve bolo, mas cantaram parabéns com um prato de brigadeiro.

Parabéns, Bia! Parabéns, mamãe!

fevereiro 23, 2009

Tigrão ou Ió ? [Tigger or Eeyore?]

As crianças adoram os desenhos do Winnie the Pooh, que no Brasil se chama Puf. Eu também acho que são desenhos muito bons, as histórias, os personagens, são muito educativos, instrutivos. Acho que a palavra certa seria edificante, no sentido de construtivo, positivo, mas convenhamos, edificante é uma palavra meio piegas.

Voltando ao Pooh, ele tem dois de personalidades opostas: Tigger [Tigrão] e Eeyore [Ió, o burrico]. O Tigrão é alegre, otimista que só quer se divertir e aproveitar a vida ao máximo. Já o Ió é um pessimista, meio depressivo, sem auto confiança. Tigrão é um entusiasta, enérgico, positivo. Ió não acredita que pode fazer nada certo, é negativo, reclamão e se vê como um fracasso.

Para o Tigrão tudo o que acontece é uma oportunidade cheia de possibilidades. Tigrão gosta de tentar, experimentar, arriscar e tudo pra ele se transforma em aventura.

Sei que crianças, de um modo geral, são alegres, felizes e se divertem com tudo. Mas existem aquelas meio tristonhas, mais quietinhas, meio briguentas, rabugentas. Pra fazer referência direta aos personagens, são crianças meio emburradas.

Há tempos vi a palestra do Randy Pausch, professor da Carnegie Mellon, ‘The last Lecture: Achieving your Childhood Dreams’, que mexeu comigo profundamente. Depois li o livro. Foi Pausch quem colocou a questão: ‘Are you a Tigger or an Eeyore?’ [Voce e Tigrão ou Ió?] Os trigêmeos se divertem muito juntos, brincam por horas juntos, dando risadas, aprontando, saindo de uma brincadeira pra outra, sempre em alto astral. Cada um deles tem espírito de Tigrão! Com certeza eles são ‘Tigrão’!

fevereiro 22, 2009

O ovo cozido

Uma memória da infância me persegue. O ovo cozido no piquenique na represa. Não sei bem quantos anos eu tinha. Quatro? Cinco? Seis? Não me lembro de muitas coisas antes dos meus seis anos, portanto, é bastante provável que isso tenha acontecido por volta dessa idade. Por outro lado, essa memória persiste justamente por causa do ovo cozido, que foi descascado na hora. Eu nunca havia visto isso antes e me parece estranho eu não ter tido essa experiência até os seis anos de idade. Então deve ter sido antes.

Deve ter sido num sábado ou domingo, meu tio Fernando, irmão de minha mãe, passou pra me pegar em casa para me levar a um piquenique na represa. Uma grande represa. Foi a primeira e última vez que fui a essa represa e acredito que hoje não seria uma boa idéia ir até lá, pelo estado de coisas que a cercam. É, o piquenique foi na represa de Guarapiranga. Ou teria sido na Billings?
Meu tio Fernando era um cara legal, companheiro de minha mãe em muitos dos programas infantis que fazíamos na São Paulo dos anos 60 e 70. Lembro-me de sua Belina vermelha, que ele usava pra subir a avenida Morumbi a 120 km por hora, com o carro cheio de crianças. Coisa de maluco, coisa que só poderia ocorrer naqueles anos. Hoje seria algo inimaginável!

Era um cara magro, porém forte. Um cara alegre, brincalhão. Era casado com Helena, uma mulher que aos meus olhos de criança parecia bastante quieta e reservada. Sempre que íamos à sua casa ela estava costurando. Contudo, me lembro de uma história do casal que me deixava intrigado e dá pistas do que poderia ser a relação do casal. Tio Fernando era fumante e fumava no quarto – mais uma coisa de maluco, típica daqueles anos – e tinha um cinzeiro no criado mudo que teimava em sumir dali, apesar de seus pedidos insistentes para que fosse deixado naquele lugar. Um dia, ele resolveu o problema: passou araldite no fundo do cinzeiro e assim ele nunca mais saiu do criado mudo.

Eles tinham 4 filhos, regulando mais ou menos com as idades lá de casa. Lembro que nesse piquenique foram só o casal, a Patrícia, a filha caçula, mais nova do que eu apenas um ano e eu mesmo. Ficamos sob a sombra de uma árvore, nadamos um pouco e tomamos um lanche. Mas só lembro disso tudo por causa do ovo cozido. Era um ovo branco, grande e que foi descascado com todo o cuidado. Raras vezes uma coisa me causou tamanho espanto. O som da casca, o a clara reluzente que surgia por baixo, a textura lisa, o sal polvilhado sobre ele, a primeira mordida que fazia surgir a gema amarela.

Agora, pensando bem, isso deve ter acontecido quando minha irmã caçula nasceu, a Guy. Devem ter me tirado de casa quando minha mãe foi pro hospital ou perto da hora de ir pro hospital. Talvez eu precisasse me distrair um pouco e minha mãe precisasse de um pouco de sossego. Dificilmente eu saberei a resposta para essa dúvida.

Quando mudamos para Campinas, em meados dos anos 70, ele veio trabalhar com meu pai. Morava conosco numa pequena casa de hóspedes que tínhamos na chácara. Naquela época meu pai tinha uma mesa de sinuca espetacular, profissional. Quase todas as noites jogávamos juntos e eu cheguei a jogar de igual pra igual com os adultos.

Nos anos 80 e 90, Tio Fernando experimentou uma vida completamente oposta a que havia tido antes. Separou-se da mulher, os filhos esqueceram dele, o rejeitaram. Ele se casou de novo, teve mais uma filhinha. Separou-se mais uma vez. Minha mãe o encontrou esquecido num corredor de um pequeno prédio na periferia de Sao Paulo, estendido num sofá surrado, encharcado de álcool até a alma. Estava triste. Não era nem sombra daquele cara alegre que conheci quando pequeno. Faltava-lhe vontade de viver.

Resgatado, veio viver em Campinas com minha avó, que o acolheu. Ficou com a mãe por uns 5 anos, relativamente bem. Mas os anos de abandono, de desvalia e infelicidade haviam feito estragos profundos. Não sei em que circunstâncias ele se foi. Acho que depois que minha avó faleceu, ele não quis mais ficar aqui. Foi mais o menos na mesma época em que se aposentou e com o pequeno estipêndio foi reencontrar a filha do segundo casamento, que vivia em Recife. De lá recebemos a notícia de sua morte.

Tio Fernando tinha um espírito de menino. Fazia piadas, ria fácil, fazia travessuras, mesmo depois de maduro e maltratado pela vida. Nunca mais foi o mesmo moleque alegre e feliz, mas ainda era um menino, daqueles em que se vê a amargura no olhar. Tenho certeza que ele foi mal compreendido pelas mulheres com quem escolheu viver na vida. Hoje como pai, custo a compreender como seus filhos tiveram a coragem, a capacidade de abandoná-lo. O fato é que amor de pai e mãe é incondicional, mas de filhos, nem sempre. Esses primos, nunca mais os reencontrei pessoalmente, mas sei que estão todos bem.

Incrível como a memória é um fio que nos conduz a lugares remotos, quase esquecidos e que voltam acompanhados de imagens nebulosas que vão ganhando nitidez enquanto as apalpamos em busca de um passado afetivo. Um passado que nos afeta ainda hoje, pois faz parte do que somos. Hoje pela manhã, na falta de frutas para comer antes de minha corrida, resolvi comer um ovo cozido. E assim, num estalo, me apareceu o ovo cozido da infância!

fevereiro 21, 2009

agora chega!

Bia e eu estávamos discutindo alguma coisa, meio corriqueira, meio boba, na frente do trio, ficamos naquele pode-não pode, sim-não, deixa-não deixa, vai-não vai, certo-errado. Isso acontece com alguma freqüência, normal, vamos acertando certas diferenças entre a visão de cada um sobre como proceder em determinadas situações na hora, no momento em que a coisa aparece pra ser decidida. E isso, mesmo decidindo a maioria dos assuntos entre nós dois apenas, antes ou depois de um acontecimento. Fala a verdade, é fácil decidir o que é melhor pras crianças, o melhor em termos de educação. Duas cabeças pensando, duas visões diferentes, com certeza. É ou não é?

O engraçado dessa vez foi que os três se juntaram e formaram a turma do deixa disso, resolveram mediar o conflito. Muito engraçado. Os três falaram alguma coisa nesse sentido, como ‘não precisa brigar’, ‘tudo bem, sem stress’, ‘tá bom, já entendemos’, coisas assim. O melhor ficou por conta do Diogo, que disse: ‘Ih! Agora chega, né! Vamos para de brigar, vocês são namorados, não podem brigar, tem que namorar! Agora vão namorar!’ E a questão foi resolvida sem grandes problemas e ficamos todos bem!

fevereiro 19, 2009

lição de casa [2]

Terça-feira foi dia de lição de casa. A segunda da vida deles. E foi mais difícil! Agora a folha de papel sulfite A4 tinha um quadro grande com varias células – linhas e colunas – que continham, cada uma, uma letra ou um número. A tarefa era pintar de vermelho as células que continham letras e de azul as que continham números.

Depois de perguntar pra eles o que estava sendo pedido na tarefa, li o enunciado para eles e perguntei se haviam entendido. Tudo bem, entendido, vamos fazer a tarefa. Separamos o material necessário – lápis de cor e de cera vermelhos e azuis e apontador. E aí os 3 começam a fazer suas lições. Induzi os 3 a começarem a lição da esquerda pra direita, do canto superior direito para baixo. Acho que deve ser esse um dos objetivos da tarefa, a pré-alfabetização, desenvolver o pensamento linear que levará a alfabetização plena.

E fiquei surpreso com a atitude de cada um deles. Muito supreso! Diogo entendeu o que tinha que ser feito, começou a pintar as células e não parou. Foi até o fim e completou a tarefa rápido e corretamente. Tudo bem, a pintura das células deixou a desejar, vazou a cor de uma pra outra, mas o conceito estava entendido e respondido. Mario começou bem, mas se distraiu com alguma coisa, parou um pouco, se desanimou quando viu que o Diogo estava lá na frente, mas voltou a fazer a tarefa. A diferença é que ele pintou direitinho cada célula, com esmero e todas as repostas também foram certas. Os dois ficaram super concentrados no que estavam fazendo! E a Laura...bom, a Laura deu um certo trabalho.

Não ficou quieta um minuto, pintou três quadradinhos e se distraiu com a lição dos meninos, depois reclamou que estava com dor de barriga, levantou, deitou no sofá, voltou, reclamou, dizia assim: ‘que saco!’, e pintava mais duas células e reclamava de novo e...nossa! Isso durou a lição toda. Os meninos acabaram suas lições, o Diogo primeiro, o Mario depois e ela continuou lá, na sua ladainha. Os meninos seguiram minha orientação ‘do canto superior esquerdo para a direita e para baixo’, já a Laura, pintou as células escolhidas aleatoriamente ou segundo algum critério que só ela sabia. Enfim ela terminou tudo direitinho, mas fiquei impressionado com a dificuldade que ela teve em se concentrar na tarefa.

Ela demonstra esse comportamento em todas as atividades que não a agradam e que significam ‘perda de tempo’. Na hora do almoço, ela pode estar morrendo de fome, mas é dureza fazê-la sentar pra comer. Quando se rende, come tudo. Acho que com a tarefa foi parecido, ela olhou, entendeu, percebeu qual seria a resposta e o trabalho que daria pra chegar lá e ficou aborrecida, achou que ia ser uma perda de tempo. Afinal, são tantas coisas pra fazer, experimentar e aprender, tantas novidades, tantas coisas pra inventar! A pequena é fogo na roupa!

fevereiro 18, 2009

Laura e sua curiosidade [A sabida]

Difícil falar alguma coisa sobre a Laura. Sempre teria muitas coisas pra falar dessa pequena. Ligada, antenada, curiosa, esperta, rápida. Está sempre perguntando coisas e querendo saber quem, o que, como, por que, quando, onde. A todo momento inventa brincadeiras. Parece ligada na tomada. Por outro lado, é um doce, uma princesa. Mas uma princesa que gosta de usar tênis, bermuda e camiseta, bem moleca!

Diogo e sua braveza [O aguerrido]

Esse menino é muito inventivo, criativo. E tem muito senso de humor. Agora deu pra ficar bravo com as coisas e sair reclamando, rabugento. Faz uns sons, tipo hum, hã, fala que não é assim, não pode, não vai, não deixa, fecha um dos punhos e bate na palma da outra mão, franze a testa, faz careta. Parece sério, mas na verdade ele está brincando e quando você entra na dele pelo lado da enganação, ele cai na gargalhada.

Mario e seus gritos [O efusivo]

Nunca vi um menino tão efusivo como esse. Quando está feliz, ninguém segura. É grito só. Corre, pula e grita. E como grita! Um grito grave, cheio, potente, que sempre caba numa risada! Acho que ele sempre foi assim, sempre se manifestou assim, francamente, abertamente, desde que era bebê. O cara é vibrante, vibra com tudo. Impressionante!

fevereiro 17, 2009

O livro da minha vida: A câmera clara

Tarefa nada fácil escrever sobre o livro da vida. Ou melhor, pode ser muito fácil. O livro da minha vida é esse que estou escrevendo aqui. Sei, até parece! Bom, deixando a modéstia de lado, vamos ao que interessa

Antes de mais nada, é preciso enfrentar a tarefa dificílima de escolher, dentre tantos livros com os quais se cria uma relação intelectualmente afetiva [ou seria uma relação afetivamente intelectual?], aquele que seria “o” livro da vida, o eleito. Eu poderia fazer uma lista dos top 5, ou top 10 ou ainda os 50 livros marcantes da vida.

Foi um exercício interessante mapear mentalmente os livros marcantes da vida, relembrar suas linhas e como minhas histórias se cruzavam com as escritas pelo autor. De fato, descobri que há muito não leio romance e poesias e tenho me concentrado mais na filosofia, que não deixa de ter um sentido de arte ao propor reflexões sobre a vida e inventar conceitos que possam explicá-la.

Então, passei pelos livros de Calvino, o Italo o fantástico autor nascido cubano mas na verdade italiano. Qualquer livro dele poderia ser o livro da vida, especialmente ‘Cidades invisíveis’ ou ‘Amores difíceis’. E lembrei-me de ‘O velho e o mar’ de Hemingway, que tantas vezes reli como se fosse a primeira vez. E retornei ao ‘Tom Sawyer’ de Mark Twain, leitura da primeira juventude. E ao Caio Fernando Abreu dos últimos anos de uma juventude já rebelde. Ainda passar por Machado, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar e tantos outros. E recordei das poesias concretas que foram o inicio de tudo para mim: os irmãos Campos [Haroldo e Augusto], Décio Pignatari e todos os outros. E das poesias de Bandeira e Gullar e Leminski e Pessoa e de Ana Cristina César, descoberta tardiamente, para mim, pouco antes de sua morte que me fez chorar.

A partir daí enveredei pelos ensaios e pelas reflexões filosóficas que me levaram a Octavio Paz e seu ‘O Monogramático’, a Paul Valéry de ‘Variedades’ e ‘Introdução ao método de Leonardo da Vinci’, aos ‘Mil Platôs’ de Deleuze e Guattari, ao Foucault de ‘As palavras e as coisas’ e ainda ao ‘Bartleby, o escrivão’, de Hermann Melville. Sim, a literatura encontra a filosofia por diversos caminhos. Contudo, entre esses e tantos outros, há um especial, por uma serie de circunstâncias. Trata-se de ‘A câmera clara’, de Rolando Barthes. [Barthes nasceu no meso dia que eu!]

Com toda certeza, ‘A câmera clara’ foi o livro a que mais releituras recorri até hoje. É um livro pequeno, de cento e poucas páginas, um pequeno ensaio sobre a fotografia [o titulo em português não traz o subtítulo do original francês: La Chambre Claire: Note sur la photographie]. O exemplar que tenho hoje não é o meu primeiro, comprado em 1987 durante a graduação. Esse que hoje leio e releio foi comprado em 1994, na época em que fazia o mestrado. Já teve que ser encadernado sob pena de perder as páginas todas tão desmilinguido estava. Já não cabem mais notas e observações nos espaços em branco de suas páginas.

Barthes escreveu este ensaio em 1980, logo após a morte de sua mãe, com quem vivia, celibatário, no mínimo, se não homossexual. Entre arrumações do luto, se depara com fotos da mãe que detonam o processo de reflexão sobre a natureza da fotografia. Essa, para mim, é a primeira qualidade do ensaio, o primeiro nó que a ele me prende, é seu detonador, seu gatilho, um fato emocional, emotivo que, não por isso, impede o pensador de tecer suas teias conceituais sobre os fatos e as coisas que o rodeiam. O que me agrada e me admira em Barthes é sua capacidade de pensar sobre as linguagens, todas: a escrita, a pintura, o cinema, a moda, os meios de comunicação, tudo. Nada escapa de seu olhar agudo.

Poderia dizer que o segundo laço que me prende a esse livro é o fato de ter sido o primeiro livro que li que engendra conceitos sobre a imagem. Ele representa uma dupla descoberta: a descoberta da invenção de conceitos e a descoberta da poética da linguagem através da fotografia. [Minha trajetória para chegar às artes visuais, às imagens, foi através da literatura e da poesia concreta. E daí para a semiologia e a semiótica foi um pulo. Quem faz a ponte, nesse percurso, quem me faz ir adiante e mostra o caminho é Barthes]. Por fim, um terceiro motivo é também muito pessoal e, coincidentemente, tem a ver com a morte de meu pai. Em 1994, quando reli o livro com mais maturidade, sua morte era recente.

Há ainda um outro motivo. Foi a partir da câmera clara de Barthes que escrevi meu primeiro artigo. A partir de seus conceitos fundamentais fiz a leitura das fotografias de Oliviero Toscani, então fotografo e publicitário que fazia as polemicas campanhas da Benetton. E assim como Barthes, a partir de seus conceitos, teci minhas reflexões que me levaram a invenção de um novo conceito a partir do conceito original.

Resumidamente, o que Barthes diz é que a essência da fotografia é seu referente, aquilo que estava em frente à câmera no momento da tomada, do disparo da maquina fotográfica. Quando se contempla uma fotografia o que se vê é aquele instante, aquele momento congelado, no passado. A isso ele chama ‘isto-foi’. Isso ele pensa a partir das fotos que encontra de sua mãe, após a sua morte, na sua ausência consumada. Esse movimento, para mim, é belíssimo. Todo o ensaio de Barthes gira em torno disso e é de uma beleza poética, de uma singeleza e singularidade embasbacantes.

Assim, sobre esse conceito, eu, um jovem estudante de mestrado, arrisco criar um conceito que desse conta das fotos de Toscani. Suas fotos escancaravam as feridas da sociedade no final dos anos 80 e inicio dos 90. Apesar de, na pratica, toda foto remeter ao ‘isto-foi’ a partir de um referente num tempo que sempre é passado, as fotos da Benetton apontavam para uma atualidade que não queria sair de nossa frente, constituindo assim um ‘isto-é’. É um artigo pequeno, curto, mas tem um certo vigor na reflexão. Tanto que arrancou elogios do então professor, bastante rigoroso.

Gostaria de colocar um trecho das palavras de Barthes mas escolher uma passagem é igualmente uma tarefa difícil. São tantas belas passagens, são tantas observações estimulantes, são inúmeras as reflexões que extrapolam a fotografia e o luto de sua mãe, apontando para o papel da mediação da linguagem para a compreensao das coisas do mundo. Ainda assim, transcrevo a seguir um pequeno fragmento:

“Ora, na fotografia, o que eu estabeleço não é apenas a ausência de objeto; é também,simultaneamente e na mesma medida, que esse objeto existiu realmente e esteve lá, onde eu o vejo. É aqui que reside a loucura, porque, até este dia, nenhuma representação podia garantir-me o passado da coisa, a não ser através de circuitos. Mas, com a fotografia, a minha certeza é imediata: ninguém no mundo me pode desmentir. A fotografia torna-se então para mim um meio estranho, uma nova forma de alucinação: falsa ao nível da percepção, verdadeira ao nível do tempo. De certo modo, uma alucinação moderada, modesta, partilhada (por um lado ‘não está lá’, por outro, ‘isso existiu realmente’). Imagem louca, tocada pelo real”.
O livro de minha vida é ‘A câmera clara’, pois me fez pensar a vida com outros olhos. Barthes me ensinou a ver e a pensar.

fevereiro 16, 2009

blogagem coletiva

Dia 17 de fevereiro de 2009 com o tema: O livro da minha vida.

Caso deseje participar: 1. Deixe seu nome e blog na caixa de comentários deste post [http://fio-de-ariadne.blogspot.com/2009/01/blogagem-coletiva-o-livro-da-minha-vida.html#comment-form]; 2. leve o selo da coletiva; 3. Faça um post sobre o evento no seu blog, contendo este passo-a-passo e divulgue o selo; 4. Prepare na data marcada um post falando sobre o livro, sobre a experiência de lê-lo, o que marcou, o que quiser falar sobre ele. Trata-se do livro da sua vida, você é quem manda.

as melhores de 2008 [4]

jul/ago 2k8

fevereiro 15, 2009

eles não gostam

Pois é, tem coisas que eles não gostam muito. Até comem, mas não gostam. O Mario experimenta de tudo, o Diogo faz cara feia pra tudo e a Laura, se for doce, ela topa!

Por exemplo, comida com molho. Engraçado, por que eu adoro molhos! Não gostam de estrogonofe. Pode? E macarrão com molho de tomate! Risoto! Segundo eles a comida está misturada e parece suja! E abrobrinha, chuchu, berinjela, couve, escarola, alface!

Acho que é uma questão de tempo pro paladar apurar e topar novas variedades de sabores.

fevereiro 14, 2009

sem a mãe por uma semana

As ausências da Bia, sempre a trabalho, já foram mais constantes e freqüentes. Eram piores pra mim, que ficava sozinho com os três ainda bem pequenos, mas melhores pra eles, que sentiam menos a falta dela.

Dessa vez, Bia passou uma semana fora, 7 dias, de sexta a quinta. Isso já aconteceu muitas vezes antes e por períodos até mais longos. Só que dessa vez foi bem pior. Os trigêmeos sentiram muito a falta da mãe. Reclamaram, ficaram mais sensíveis, mais chorões, fizeram dengo na hora de ir pra cama, até foram pra minha cama pra pegar no sono.

Por outro lado, eles ficam muito bonzinhos quando estão só com um de nós dois. Pelo menos comigo ficam muito bem. Até sai pra comer uma pizza com eles na sexta-feira passada, depois de nadar por umas 2 horas, pois tava um calor danado no fim da tarde. Aproveitamos um dos últimos dias sem chuva do horário de verão, que acaba domingo. Os três se comportaram muito bem, umas graças.

Quando Bia chegou, quinta-feira foi uma festa. Eles são super calorosos, expansivos, espontâneos e expressam alegria com vigor. Ontem repetimos a pizza pra celebrar a volta da mãe. Mas pelo que vi durante a semana, não vai ser tão fácil, daqui pra frente, encarar distâncias prolongadas.

fevereiro 12, 2009

muito difícil

O trio conversando no carro e não sei por que pintou o assunto de morte. Acho que crianças nessa idade começam a ficar intrigados com esse fato da vida. É, a morte é o último fato da vida e o único líquido e certo. Todos vamos morrer um dia. Como é algo desconhecido para eles, uma coisa impalpável, pois ainda não experimentaram a perda de ninguém querido e próximo, fica difícil entender a dimensão da morte. E é muito difícil explicar o que é a morte. A morte é uma ida sem volta, uma ausência sem fim.

Talvez isso seja motivo de uma certa insegurança quando os pais saem e se ausentam, mesmo que por poucos instantes. Claro que tudo fica muito pior por que o tempo também é difícil de compreender e mensurar. Será que vão voltar? Quanto tempo vão demorar? Isso pode ajudar a explicar a atitude da Laura ultimamente.

Então, no carro, começaram a me perguntar sobre a morte, por que se morre, como se morre, quando se morre.

‘Você fica triste porque seu pai morreu?’ [meu pai morreu em 1993]
‘Fico muito triste por que sinto falta dele. Mas ele está sempre comigo, no meu coração, na minha memória.’

‘E você vai morrer, pai?’
‘Vou morrer um dia. Todo mundo vai morrer, um dia.’
‘Quando você vai morrer, pai?’
‘Não sei quando, não dá pra saber, ninguém sabe quando vai morrer.’
‘E se você morrer sem avisar a gente, como a gente vai fazer?’

Quer coisa mais difícil?

fevereiro 11, 2009

lição de casa

Ontem eles trouxeram lição de casa pela primeira vez em suas vidas escolares. Já pensou nisso? Nem fizeram 5 anos ainda e já têm lição de casa! Agora vão ter lição de casa pra fazer todas as terças-feiras. E no segundo semestre também às sextas-feiras. Vida dura! De qualquer jeito, estavam se achando importantes com a responsabilidade de cumprir uma tarefa e levar pra escola no dia seguinte.

Foi uma tarefa bem legal, nada muito complicado pra eles. Eles receberam uma folha impressa com duas tarefas. Na primeira havia um quadro com letras dentro de quadrados e eles tinham que identificar e pintar as letras de seus nomes. Na segunda, havia um quadro vazio e eles tinham que procurar as letras de seus nomes em revistas, recortar e colar. A parte mais difícil foi recortar as letras e colar no papel. Mas deu tudo certo.

O engraçado é acompanhar os três fazendo a mesma lição. Fiquei me sentindo numa escolinha mesmo. Organizei tudo na mesinha deles, junto com eles, antes de começar. Perguntei o que tinha que ser feito [recomendação da escola] e eles explicaram da maneira deles. E começaram a fazer. E paravam pra um olhar a lição do outro, e davam risada. Laura foi a mais concentrada, como sempre. E recortou um monte de letras que não eram do seu nome, pra levar pros amigos na escola. Também recortou algumas letras pro Diogo, sem que ele pedisse, o que achei um pouco preocupante.

Enfim, fizeram a primeira lição de casa! Parece que gostaram. Levaram hoje de volta. Vamos ver o que eles vão comentar sobre o que aconteceu na classe.

fevereiro 10, 2009

10.000 visitas!

Estou comemorando a marca, pra mim, super significativa. A todas vocês que passam por aqui, um grande beijo! A todos vocês que passam por aqui, um forte abraço.

Não achei que esse dia fosse chegar tão cedo. Antes de 1 ano o blog já recebeu 10 mil visitas! Demais! Na verdade o blog tem 9 meses e 12 dias ou 287 dias corridos [calculei aqui]. Nesse período, o blog recebeu 363 comentários distribuídos por 134 posts [dos 188 até agora]. Para um blog com um assunto tão especifico, os resultados são surpreendentes. Nunca achei que ‘os trigêmeos’ iria despertar tanto interesse.

Acho que já falei isso por aqui, mas ter um blog é uma coisa muito legal. Mas é uma responsabilidade também por que é um meio super rápido que cria interações intensas entre as pessoas. Quem segue um blog quer ter informações novas sempre, com freqüência. Sei disso por que também sigo alguns blogs e fico frustrado quando minha expectativa não é atendida. Muitas vezes fui displicente e deixei a desejar quanto à regularidade e qualidade dos posts. Gostaria de ter um layout diferente e um sistema de edição com ferramentas mais interessantes, mas o que meus conhecimentos permitem é trabalhar com o blogger, que às vezes da um trabalho danado na hora de editar e publicar. Mas, como diz o ditado, a gente faz o que pode.

Mas isso não é o mais importante hoje. Hoje o que importa são os visitantes! Então, gostaria de agradecer a todas e todos os visitantes, às leitoras e aos leitores, A todas e todos que acompanham o blog com freqüência e, especialmente às comentadoras e comentadores. Fico feliz de ter vocês comigo. Fico feliz de poder compartilhar essas histórias todas com vocês. Fico feliz em perceber que alguns de vocês continuam voltando. Fico feliz em perceber que gente nova sempre passa por aqui.

Ainda tenho muito o que contar. Enquanto esses trigêmeos estiverem aprontando e eu tiver gás pra acompanhá-los, novas histórias vão pintar! Então, espero contar com vocês daqui pra frente. Mais uma vez, obrigado. Valeu!

você também?

Estávamos Bia e eu tomando nosso chopinho semanal, graças a vovó Guguta que fica com os trigêmeos uma noite por semana pra gente relaxar, quando vimos uma cena inusitada, no mínimo engraçada.

Na mesa ao lado da nossa sentou um casal que chegou depois de nós. Como chegaram depois, vimos quando chegaram. Era um casal jovem e reparei no cara porque era grande e vestia uma camisa pólo rosa. Dois minutos depois vi chegar nessa mesa um outro casal e um cara igual, mas igualzinho ao primeiro, sem tirar nem por. E não é que o cara também estava de camisa pólo rosa? Pensei logo: gêmeos! Senão eram gêmeos, eram irmãos muito parecidos, mas muito mesmo!

O cara vem chegando, olhando pro irmão. Estende a mão pra cumprimentar e diz: ‘os dois de rosa?!?!?!’ Os dois, admirados com a coincidência, dão um sorriso amarelo, quase verde. Agora não tinha jeito, fazer o que? Deu pra perceber que eram realmente irmãos e não moravam mais na mesma casa, então não sabiam o que cada um estava vestindo. Baita coincidência! Acho que é coisa de gêmeos mesmo!

fevereiro 09, 2009

sem palavras

Uma das melhores coisas dessa coisa de blog é receber comentários. Tem gente que acha que comentários são a coisa mais importante de um um blog. Os comentários permitem a interlocução de quem escreve com quem lê, escritor e leitor. São um feedback às vezes necessário que permite uma troca entre as duas pontas da comunicação. É quase impossível que isso aconteça com um meio hard e frio como o livro mas num meio soft e quente como a web isso é praticamente uma premissa, já que uma das características do meio é a interatividade.

Eu gosto de receber comentários mas não acho que são a coisa mais importante do blog. Eu queria me expressar, contar uma história. Poder contar com um retorno interativo é um luxo, mas não considero um fim. Até por que o numero de comentários por numero de visitas é uma fração bem pequena. A maioria dos leitores fica na sua, meio anônimo, incógnito e vai acompanhando o blog numa boa. Acho perfeito, o leitor não precisa se manifestar para o autor. Eu mesmo faço isso em muitos blogs que visito.

Fora toda essa percepção entremeada de releitura de teoria da comunicação, alguns comentários são demais e mexem com a gente. Foi o que aconteceu domingo. Recebi um comentário emocionante que me deixou muito feliz. No momento em que li, fiquei uns dois minutos em estado de êxtase, choque, numa espécie de transe. Quando voltei à realidade estava sem fala. E a mensagem ficou na minha cabeça o dia todo. Agora, tento traduzir em palavras o que senti e ainda estou sentindo.

Ju [http://paulistanosnumafria.blogspot.com/],

Obrigado!

Você não pode imaginar como seu comentário me fez bem. Fiquei lisonjeado e emocionado com seus elogios. Caramba! Ter o blog lido de ponta a ponta, num só dia, é demais! E estar entre os top 3 na lista de alguém é muito sério, muito legal. Muito, muito obrigado. Fico feliz que você se sinta íntima da família. Seja muito bem-vinda! É um prazer ter uma pessoa já tão querida participando de nossa vida. E te digo, já pensei em escrever um livro sim, mas ainda não rolou. Acho que seria um bom projeto, quem sabe me animo a botá-lo em marcha esse ano. Ah! E já coloquei Ottawa em nosso roteiro de próximas cidades a visitar. Pode contar com os modelos pras suas fotos, será um prazer e uma honra!

Mais uma vez, obrigado.
Um grande beijo,
Octavio

. . .

Transcrevo abaixo o comentário da Ju:

Oi Octávio,

Sinceramente já me sinto íntima de vcs e dos pequenos...rs...vi seu comentário no blog e vim aqui ver quem era o "Pai dos trigêmeos", tenho a hábito de sempre ver o primeiro post do blog que acabo de conhecer, as vezes vejo um pouco mais, mas dificilmente leio o blog inteiro, já li uns 4 desde o começo...mas nunca em um só dia! Parabéns, seu blog é sensacional. Com certeza está no meu top 3. Adorei a sua narrativa, vc realmente tem um dom. Se vc ainda não pensou, pense em escrever um livro, muita coisa vc poderia tirar pronta daqui mesmo. E foi assim que eu li seu blog, como um bom livro. Me deliciei com cada detalhe, desde o início da sua história com a Bia até as fotos das crianças com fralda na cabeça até a galinha d'angola pedida de Natal. Algo que me prendeu tb foi a curiosidade de saber pra que cidade vcs vão vir...pelo jeito alguma em Alberta pelas pistas...mas saiba que se vierem pra Ottawa já tem uma babá disponível "de grátis"! =)

Ah e parabéns pelas fotos tb! Lindas! Como os pequenos são fotogênicos! Sou uma quase aspirante a fotógrafa e fiquei morrendo de vontade de fotografar seus pequenos...rs...então se algum dia vier pra Ottawa me dá um toque!

Mais uma vez parabéns pelo blog!
Abraços, Ju

fevereiro 08, 2009

10K!

Não, não ganhei nenhum prêmio, nem na loteria, nada. Não embolsei 10 milhas, mas teria sido muito bem-vindo.

Depois de 6 meses correndo, hoje corri 10K, 10 quilômetros. Nada mal pra quem não treina regularmente. Até gostaria de correr com mais freqüência, mas não tenho conseguido.

Hoje foi a primeira vez que tentei correr 10K depois que voltei a correr. Em janeiro corri 8,5K em Ubatuba, altitude 0, condições ideais de temperatura e pressão, logo cedo, às 6 e meia da matina. Corri em 50 minutos, o que indicava que eu poderia correr 10K em 1 hora. Já naquela corrida eu tinha superado a própria mente, que fica sugerindo que você não deve correr, que você esta cansado, que deve andar, que correr não é natural, que você deve parar. É, a cabeça ficava me dizendo essas coisas e se você para de correr e anda e lá dizia agora para de vez e descansa. Pra superar isso é preciso ter uma meta muito definida e muita vontade de chegar até o fim. Hoje só conseguia ver a minha chegada e fui controlando o tempo, 6 minutos por quilometro, em média.

Sai cedo de casa e comecei às 7 da manhã, na lagoa do Taquaral e fiz o percurso da famosa corrida da lua [veja o mapa aqui. Fiz o percurso em amarelo, não sei se dá pra ver direito]. Campinas não tem muitos lugares bons pra correr, esse é um dos poucos. Achei que conseguiria fazer os 10K em 1 hora, seria bom pra estabelecer um marco pessoal, uma marca de treino, tempo e distância: seis meses correndo, 10K em 1 hora. E pra minha surpresa, corri em 58 minutos e 40 segundos. Muito bom! Fiquei feliz.

Como gosto de competir, compito contra o relógio. Ou, vendo por outro lado, compito comigo mesmo, pra superar minhas próprias marcas. Agora é treinar pra baixar esse tempo. E ver o que consigo atingir nos próximos 6 meses.

Já tomei meu café da manhã e agora vou tomar uma bela ducha. À noite, vou dormir como um anjo!

fevereiro 06, 2009

você vai voltar, pai?

Nas últimas duas semanas a Laura tem demonstrado um apego maior comigo. Chora quando saio, pergunta por que vou sair, se vou demorar, porque não fico com ela. E chora sentido. Já me perguntei o por que disso, dei tratos a bola, mas não sei dizer o que esta acontecendo.
Hoje eu ia saindo, ela começou a chorar, eu disse que voltava logo e ela completou: ‘você vai ficar pensando em mim, pai?’

fevereiro 05, 2009

eles adoram

Brócolis, cenoura, pepino, tomate, beterraba, couve-flor, batata baroa [mandioquinha], batata doce, purê de batata, milho, coxinha da asa de frango e tulipa, bife, carne moída, lingüiça, peixes, macarrão na manteiga, pães em geral. E manga, banana, pêra, maca, abacate, melão, mamão, ameixa, uva, castanhas, mel, queijos, bolos, mariola [doce de banana, bananadinha], sucos, leite e café com leite. E os menos nobres pastel, batata frita, mandioca frita, salsicha, miojo com requeijão, pão de queijo, groselha, gelatina, sorvete, biscoitos em geral, nutella, leite condensado, pipoca, froot loop, nescau ball, sucrilhos [ou seria açucrilhos?]. E as venenosas, bala, chiclete, chocolate, e todas as guloseimas da face da terra que todas as crianças não conseguem resistir.

Devo ter esquecido alguma coisa, depois lembro. Só sei que eles têm um apetite voraz!

fevereiro 03, 2009

mais do meu tempo de escola

O texto anterior me fez lembrar de mais coisas dessa época.

Muitos estrangeiros moravam no Brooklyn nos anos 70. Os vizinhos do lado direito eram alemães, uma senhora doce chamada Don’Ana. Ela tinha um cachorro salsichinha chamado Putsy. Acho que os vizinhos da frente eram suecos. O vizinho de fundo era o Agnaldo Rayol. E os do lado esquerdo eram alguma coisa, menos brasileiros. Fizemos rodízio com outra família, acho que eram judeus. O menino, um pouco mais velho que eu, tinha o apelido de Bubby e cheirava a salame, sem brincadeira. O carro cheirava a salame. Sério! E era um carrão importado e antigo, preto, o interior era todo vermelho, as portas traseiras abriam ao contrário, sabe como é? Abriam para trás e não pra frente, a dobradiça ficava atrás e o trinco no batente do meio do carro.

Nossa casa não tinha muro na frente. Tinha um estilo bem norte americano. No jardim da frente tinha um pé de Jasmim do Cabo [ou Jasmim Manga] e um dia de manhã apareceu uma colméia de abelhas africanas. Passamos por algumas horas de terror presos dentro de casa. Tivemos que chamar os bombeiros.

Entre 71 e 74 fomos assaltados quatro vezes, com ladrões dentro de casa. O carro de meu pai foi levado por ladrões por algumas vezes. Acordávamos de manhã e o carro não estava lá. Acho que em 73 meu pai mandou construir um muro de 4 metros em frente à casa. Não adiantou, fomos assaltados mais uma vez. Isso foi determinante pra que meus pais saíssem de São Paulo com a família e escolheram Campinas, onde moramos hoje.

Eram tempos de governo militar, Médici e Geisel, tempos de repressão pesada e as recomendações eram de que não falássemos com ninguém nem aceitássemos carona de ninguém, nem dentro da escola. Eram tempos de um sem número de desaparecidos, políticos e não-políticos. Acho que se praticavam crimes usando a luta armada como desculpa.

Sofremos um assalto em frente à casa de minha avó, Martha, na rua Inglaterra, número 74. Os caras nos pegaram saindo do carro, um Opala 4 portas verde bandeira. Lembro até hoje da cena e da cara dos 4 sujeitos, todos barbados, jovens, carregavam um monte de santinhos de políticos do MDB pra esconder o revolver. Nunca vou ter certeza, mas sempre achei [depois que caiu a ficha do que rolava politicamente nos anos 70] que eram da luta armada, do MR8 ou coisa assim. Isso foi em 74, nas eleições que a Arena achou que tinha ganho mas o MDB arrebentou.

Meus pais tiveram vários carros nesses anos: um fusca cinza e um fusca branco, TL, da VolksWagen, um Opala verde, um Opala mostarda, um Dodge azul marinho, um Galaxy verde menta, um Dodge prateado. Acho que o TL foi o carro mais estranho que a VW já fez em toda a sua história! Não era nem uma Variant e nem um Zé do Caixão! Deve ter sido o primeiro modelo hatch no Brasil.

Eu gostava de namorar. E namorei gêmeas! Quer dizer, eu achava que namorava e elas não necessariamente sabiam disso. Nunca mais encontrei ninguém da minha turma do primário e acho isso meio triste e bem frustrante.

Fui um bom aluno, nada brilhante. Até hoje culpo a professora de matemática pelo fato de não gostar de matéria. Ela era ruim, ruim pra dedéu! Acho que se chamava Iracy ou coisa assim. Nunca vou perdoá-la.

Lembro de tanta coisa...lembro da tv preto e branco. Dos desenhos que adorava assistir. Lembro de ‘Let it be’ e ‘Revolution’ tocando no rádio e da loja de discos Hi-Fi no shopping Iguatemi, o único da cidade até então. E do relógio d’água que tinha lá até outro dia, faz tempo que não vou então não sei se ainda esta lá. Lembro da minha Caloi berlineta azul. Lembro dos livros da Vaca Voadora da Edi Lima. E que não gostava de Monteiro Lobato. Lembro do meu cachorro, o Xodó, que conviveu comigo por 14 anos, dos meus 2 aos 16 anos.

Lembro de um clima, de uma sensação, uma coisa que não tem tradução em palavras, uma coisa que eu sentia que acho que é coisa da infância e da passagem pra pré-adolescência. Mas a memória trai a gente e de vez em quando aparece uma tela na mente que mostra coisas que nem sonhávamos mais lembrar. E outras vezes as lembranças desaparecem completamente. O que sei é que esses tempos de escola estão muito distantes, cada vez mais distantes. E que os filhotes só estão no começo de uma grande aventura chamada vida, da qual faz parte a escola.

no meu tempo de escola...

Hoje, levando os trigêmeos pra escola, lembrei de quando era pequeno e me levavam pra escola. Acho que o gatilho foi a vontade que tive de ligar o radio na CBN pra ouvir o noticiário. Bateu um flash do que rolava comigo em 71. É, 1971!

Nessa época morávamos em São Paulo, no Brooklyn [fotos do atual Brooklyn], Rua Martim francisco, hoje rua La Place. Estudávamos no Pio XII, colegio de freira lá no Morumbi, perto do Palácio do Governo e do Morumbi, o estádio do tricolor, time do coração. Eu tinha de sete pra oito anos e estudava de manhã, no primeiro ano primário [o que significaria isso hoje com as recentes mudanças no sistema do ensino fundamental? Acho que segundo ano, não sei...] Fazíamos um rodízio com uma família que morava perto, acho que na rua dos Tamoios, a umas duas quadras da Av. Washington Luis e pertinho de Congonhas.

O rodízio era assim: eles levavam, minha mãe buscava. De manhã, quem nos levava era o seu Manuel, antes de ir pro trabalho [será que era esse o nome dele?], pai da Liete e do Luis Antonio. A Liete devia ter uns 15 anos, morena, pele bem clara e o Luis Antonio devia ter uns 12 anos. Eram bem quietos. Seu Manuel tinha um corcel branco [pra quem não se lembra ou não sabe que carro é, ver aqui e ali], duas portas. Era o carro! Banco de couro, painel com acabamento de madeira escura [ou laminado padrão madeira], umas rodas invocadas. Acho que era o lançamento do ano. O banco era tão liso que a gente escorregava de um lado pro outro nas curvas. E no painel ele tinha um porta retrato, daqueles com imã [é, o painel tinha partes metálicas!], com as fotinhos dos filhos e entre elas um espaço onde estava escrito: ‘Papai, não corra.’

Sei que seu Manuel ia escutando o rádio, sintonizado na Jovem Pan. E aquilo me angustiava um pouco porque era sinônimo de que logo chegaríamos à escola. Não me lembro da voz do seu Manuel, nem do rosto dele, nem do que ele fazia, mas lembro das costas dele ao volante, do cabelo brilhante de Gumex [dura lex sed lex, no cabelo so Gumex] ou Brylcreem [que meu pai usava e ainda existe!]. Lembro também que depois de atravessar a Marginal Pinheiros pela ponte do Morumbi, a Avenida Morumbi tinha uma subida forte, com terrenos vazios dos dois lados e ali ficavam umas trabalhadoras, mulheres da vida, levantando a blusa pros carros que passavam. Isso às sete da manhã! Aquilo era o máximo de contravenção que já havia visto e não tinha idéia do significado daquele gesto.

Os dois segundos em que tive vontade de ligar o rádio, me fizeram lembrar disso tudo. E de outras coisas também. Nessa época, meu pai nunca me levava pra escola. Como era dono de seu negócio, acordava às 9 e voltava pra casa perto das 10 da noite. Tudo isso me fez pensar como as coisas são diferentes hoje em dia ou como eu sou diferente com meus filhos. Tive vontade de ligar o radio mas não liguei. Preferi aproveitar o caminho da escola pra conversar um pouco com os tri. E também me deu um pouco de vontade de chorar...um pouquinho...

fevereiro 02, 2009

primeiro dia de aula

Ainda estava escuro quando acordei os tri, às 6:15 da matina. Acho que já esta na hora mesmo de acabar o horário de verão! Os meninos pularam da cama, serelepes, quando os acordei dizendo: ‘vamos acordar, gente, vamos encontrar os amigos na escola!’ A Laura ainda ficou um pouco mais na cama. Troquei os meninos, escovei os dentes, lavei o rosto, penteei os cabelos.
Depois fui chamar a Laura de novo: ‘Vamos, Laura, os amigos já devem estar esperando você na escola!’ E ela pulou da cama e ficou pronta em 5 minutos. Comeram uns biscoitos, só o Mario tomou um pouco de leite. Saímos de casa às 7:10 e às 7:15 eu estava parado na porta da escola e os três descendo do carro. Um beijo em cada um, tchau. Eles ficaram lá super felizes!
Já é o terceiro ano escolar deles [veja quando eles começaram]. Que bom que gostam da escola!

fevereiro 01, 2009

finalmente o sol…

...deu as caras! Começamos bem fevereiro. Depois de uma semana de chuva justamente nos últimos dias de férias das crianças. Ontem foi um dia ótimo, mas de novo eu perdi. Estou fazendo um curso que espero me abra novas possibilidades de trabalho, outros horizontes. Não é mole ter que mudar de área no Brasil aos 45 [parece coisa de futebol, tentar virar o jogo aos 45 do segundo tempo]. Com essa idade o cara fica velho por aqui. Vamos ver o que rola, talvez dê certo, talvez não, o jeito é tentar, quem não arrisca não petisca.

Hoje é o último dia de férias. Foram boas essas férias, mais tranqüilas. Eles vão crescendo que ganhando autonomia e assim facilitando a nossa vida. Como dizem as pessoas a todo momento: ‘vocês vão ver quando eles fizerem 5 anos! Melhora muito!’ Só dando risada mesmo. É difícil sempre mas sempre melhora!

Amanhã começam as aulas dos tri. É o retorno a rotina.