novembro 13, 2009

a história da mudança [8] – outras motivações

[os trigemeos em maio de 2007, pouco antes de nossa viagem]

Votei no Lula no primeiro mandato com reais esperanças de que ele imprimiria mudanças significativas. Ledo engano. Tenho convicção de que o Brasil, um país em que a esmagadora maioria é pobre, precisava de um presidente que dedicasse menos atenção às minorias ricas. Se isso foi de fato feito e a vida da população em geral melhorou, por outro lado, os ricos continuaram mais ricos. Símbolo disso são os lucros astronômicos dos bancos. Acho que o Brasil é o país em que os bancos mais lucram no mundo todo. Fora isso, áreas essenciais como educação e saúde não apresentaram melhoras. Pelo contrário. Nas eleições seguintes votei no Cristovam Buarque, mas parece que ninguém ouviu suas idéias. Eu, como ele, acredito que a solução do Brasil está na educação.

Não bastasse isso, há os motivos mais, digamos, usuais como a violência, os altos impostos e nenhum retorno em educação, saúde e transporte, a corrupção. Eu comecei a implicar com tudo: com o atendimento nos lugares públicos, com os bancários, com os garçons, com os motoristas violentos e mal-educados, com a classe media cada vez mais deseducada, com os endinheirados muito cheios de si, com a miséria batendo a minha porta.

Incrível, mas tem uma hora que você vê o tempo passando, você ficando velho e aqueles problemas que você começou a enxergar quando tinha 17 ou 18 anos, ainda estão lá, no mesmo lugar e talvez piores. Comecei a desconfiar que não haveria saída pro Brasil, comecei a entender que o país é assim, sempre foi e não vai mudar. Trata-se de uma questão cultural. Depois de ler os 4 livros sobre a ditadura do Elio Gaspari e 1808 do Laurentino Gomes, tive a confirmação pra minha desconfiança.

Agora, pensa isso tudo e ainda por cima ter que pensar no futuro da próxima geração, para a qual você contribuiu com 3 pequenos integrantes. O que será desses trigêmeos nesse Brasil? O que será de nós, Bia e eu, tendo que pagar plano de saúde, pagar escola por pelo menos mais 20 anos, pagar por segurança, vivendo fechados em condomínios, agüentando governos corruptos, convivendo tamanha desigualdade social? Era isso que queríamos pro nosso futuro, pro futuro de nossos filhos? Decididamente não.

Eu andei tão chateado com as coisas aqui que até um outro blog inventei pra tratar desses assuntos. Agora estou tão cansado disso que até esse blog anda meio esquecido. Como se vê, motivos não faltavam e não faltam pra gente querer sair do Brasil. Em contrapartida, havia motivos de sobra pra considerar o Canadá como um destino para o futuro.

Decidimos, então, depois de muita ponderação, imigrar para o Canadá. E entramos com um processo nos candidatando como imigrantes qualificados. E lá se somariam mais 2 anos de história.

6 comentários:

Paloma Varón disse...

Mas vc há de reconhecer que Lula e o Bolsa Família estão diminuindo as desigualdades.
Eu gosto do Haddad, mas o vejo limitado por esta estrutura que se criou antes dele.
Suceder FHC, privatizações, sucateamento e política neo-liberal, definitivamente, não é fácil.
Também gostava do Cristóvam, mas o pessoal daqui de Brasília (mesmo os mais progressistas, professores etc.) diz que houve tanta corrupção e desvio de verba quando ele era governador aqui que eu estou repensando. De qualquer forma, deve ter sido o melhor que já passou por aqui. Porque Roriz e Arruda, sinceramente, dão vontade de vomitar.
Como vc, acho que a educação é a base de tudo. É o principal. Mas acho que tem que investir mais ainda em educação de base (pré-escola e fundamental) para se ter um país digno - com pessoas idem.

Anônimo disse...

o pior disso tudo, te lendo é que vc tem toda razão.
Portanto, sem muito argumento para dizer o contrário. Fico chateada, muito triste, é dos que não tem essa chance de imigrar para um país sem muita desigualdade, ou então imigrar sendo qualificados, o que são para poucos não é?
um gde abraço
madoka

Ziza disse...

Ola! Bem, como tu tenho o mesmo pensamento q um pais so muda através do investimento em educação e oportunidades, também não acredito muito q nosso país vá sofrer transformações socio-economicas a curto e nem tbm a longo prazo, com isso não quero ser pessimista, mas realista. E acho que se temos oportunidade de sair e ter melhores condições de vida fora, deveremos sim fazê-la. Mas, infelizmente, aqui na minha casa sou voto vencido, pq meu marido acredita q fora, será bem pior, ter que recomeçar noutras condições q talvez e com certeza, não serão as mesmas q temos. Mas estou na torcida p vocês e acho q fazem a coisa certa e tbm no tempo exato. Estou acompanhando aqui e tbm qdo estiverem lá! Abraços.

Fatima disse...

Primeiro quero cumprimentá-lo pelo aniversário, que deus o proteja sempre!
Segundo, quero dizer que encontrei seu blog por acaso e desde então não fico um dia sem ler, mesmo não comentando, mas estou aqui acompanhando sua familia linda!
Terceiro, voce me emocionou contando sua saga para ser professor como P maiusculo num país como nosso, só tenho que parabenizá-lo que vc continue assim, corajoso, empreendedor, e um ótimo pai, mesmo sem conhece-lo vou ficar aqui rzando para que vcs sejam felizes nessa nova etapa!
Desculpa pelo erros de portugues!
Boa sorte!

Jussara disse...

Como filha de professora, tb acho que só se muda alguma coisa através da educação. A educação num sentido amplo, não apenas a instrução que as escolas transmitem (e nem isso hj em dia anda grande coisa, a gente sabe). Minha mãe sempre optou em trabalhar em escolas de população mais carente, e acompanhando esse trabalho de perto ao longo dos anos, posso dizer sem medo de errar, que o Lula e o bolsa-esmola não mudaram em nada a situação dessas pessoas. E tb, do que adianta dar o dinheiro, se a mentalidade delas continua a mesma? Enfim...
É como a Madoka disse, vc tem toda a razão, e não há o que argumentar. Bate tristeza mesmo, desânimo, desesperança pra gente que fica aqui e sabe que não há prognóstico de mudança. A única coisa que posso dizer é que tento fazer a minha parte, mas é como lutar contra um gigante :(.

Jane disse...

Observando tudo o que vc citou sobre nosso país... eu já senti vontade de sair daqui inumeras vezes...