novembro 30, 2009

última semana

[em 2004, comemorando 4 anos de casados, Bia gravida de 7 meses, mesmo tempo em que estavamos aqui]

Enfim, última semana no Ceres. Aqui vivemos 7 anos e fomos muito felizes. Aqui concebemos os trigêmeos. Aqui criamos o trio. Sempre gostei de morar aqui, da vista, do espaço, da arquitetura, do astral do lugar. Vamos sentir saudades. Mas a vida é assim e essa fase será sempre lembrada com muito carinho.
Sábado entregaremos o apartamento. Já estou me despedindo. Tchau, Ceres.

novembro 25, 2009

a história da mudança [16] – Calgary

Nós conhecemos apenas três cidades no Canadá: Victoria, Vancouver e Calgary. Optamos pela costa oeste porque a costa leste e o Canadá central são regiões mais úmidas. Interessante falar isso quando a floresta na costa Oeste da América do Norte é considerada como rain forest. Mas o clima nas regiões influenciadas pelo Pacífico é mais seco, o que significa volume de neve menor.

Calgary tem 1 milhão de habitantes e está entre as cinco maiores cidades do Canadá. O aeroporto é o terceiro em movimento. A capital da província é Edmonton, mas Calgary concentra os maiores negócios o que garante maior geração de empregos. Para os padrões canadenses, a cidade tem alguns problemas. O transporte não é dos melhores. Há ônibus e um sistema de trem leve sobre trilhos que funcionam bem mas comparado aos sistemas de transporte de outras cidades é bem inferior em termos de oferta e demanda. Outro problema grave é a extensão da mancha urbana, quase tão grande quanto Nova Iorque. Isso faz com que a cidade seja a mais americana das cidades canadenses, ou seja, usa-se muito o carro em detrimento dos transportes coletivos. São dois problemas relacionados.

Mas o que interessa mesmo na cidade é sua configuração e sua situação geográfica. Calgary é dividida em quadrantes: North West [NW], South West [SW], North East [NE] e South East [SE]. Isso facilita muito a orientação na cidade. As ruas e avenidas são numeradas a partir do cruzamento central entre a Center Street e Center Avenue. As ruas vão no sentido norte sul, as avenidas no sentido leste oeste. Quanto menor o número, mais próxima do centro está a rua ou avenida. Os números dos edifícios geralmente indicam a rua e a avenida. Para descobrir a rua o avenida próxima, é preciso apenas retirar o último número do endereço. Por exemplo o número 2025 12 Ave SW significa que o prédio está na 12 Ave próximo da rua 20. Se fosse o numero 2001 o prédio estaria mais próximo da rua 19.

Mas nem tudo são flores. Em muitos bairros, os nomes das ruas seguem um tema e a designação de street, drive, road, place, etc. pode ser determinante para achar o endereço, já que pode haver repetição de nomes. Em Dalhouise, por exemplo, todas as ruas começam com Dal; Dalton, Dalhart, Dalfort, Dalhurst, Dalcastle. Pode haver Dalhart Street, Dalhart Way, Dalhart Drive, Dalhart Hill.

Quanto a situação geográfica, Calgary está bem no início da Prairies, as pradarias, uma grande planície que se estende das montanhas rochosas até a província de Ontário, englobando as províncias de Alberta, Saskatchewan e Manitoba. A proximidade com as Montanhas Rochosas faz com que, no inverno, Calgary receba ventos quentes vindos do Pacífico, que derretem a neve e fazem com que a temperatura suba até 20ºC. Esse é o famoso Chinook, o snow eater, comedor de neve.

Agora, uma coisa realmente impressionante é a qualidade da água dos rios que cortam a cidade. Tanto o Bow quanto o Elbow tem águas cristalinas, o que não é muito comum para os padrões brasileiros. O que me impressiona é que o discurso no Brasil, de quem quer que seja, é perfeito, as águas dos rios são importantes, devem ser preservadas e tal. Mas isso é só teoria, já que na prática, a coisa não rola. Eu nasci em São Paulo e não preciso falar dos rios que cortam a cidade. Depois mudei pra Campinas e o rio Atibaia, que corta a cidade tem água de péssima qualidade. Então será um prazer morar em Calgary e poder usufruir das águas de seus rios e poder ensinar pras crianças, na prática e não só na teoria, que as águas devem ser preservadas para o bem de todos.

Faltam 2 meses...

novembro 24, 2009

dos cadernos do infantil 2 [4]

07/03 – O milho fez sucesso com os outros. Muitos quiseram mas combinei de falar para as mamães mandarem de lanche. O Diogo foi quem comeu mais. Mario e Laura só um pouco.

19/04 – O Diogo, o Mario e a Laura comeram uma espiga de milho por volta das 11h. Laurita.

26/04 – Diogo e Mario comeram bem o ovo cozido por volta das 11h. A Laura comeu menos!

04/06 – Dona Maria Augusta, hoje os três ficaram com as mãos muito frias...coloquei 2 casacões emprestados no Diogo e no Mario, mas não havia outro para a Laura. Depois ela correu, brincou e esquentou! Um abraço, Laurita.

dos cadernos do infantil 2 [3]

03/04 – Bom dia. A gangorra de jacaré do parque coberto bateu no olho direito do Diogo. Ele estava brincando e sentou no chão quando aconteceu. Um abraço, Laurita.

dos cadernos do infantil 2 [2]

26/03 – O Mario ralou o joelho esquerdo no chão do parque quando tropeçou. Foi lavado com sabonete. Laurita.

22/06 – O Mario está com a bochecha esquerda e a testa arranhados porque uma amiga o arranhou. Conversei com os dois sobre tal atitude. Até amanhã, Laurita.

novembro 23, 2009

a história da mudança [15] – quase tudo

Nesse fim de semana que passou o apartamento ficou bem mais vazio. Levei varias caixas pra casa de minha mãe, com coisas que ela vai selecionar pra doação. Minha irmã que mora em Campinas veio retirar os moveis que vão ficar com ela. Meu cunhado veio de Tubarão e levou um caminhão F350 carregado de móveis e caixas.

As crianças estão sem as camas. A sala esta sem móvel nenhum. As caixas estão praticamente prontas. Falta colocar os casacos, que vão por cima de tudo. Muitos ainda estão lavando, outros ainda vão pro tintureiro essa semana. Ainda vai faltar organizar os documentos que seguem conosco, mas na bagagem de mão e os que ficam no Brasil.

Nos dias em que ficaremos na casa dos pais da Bia, as caixas, já devidamente fechadas, vão ficar num guarda-móveis. Conosco teremos roupas para passar o verão e a mala de roupas da viagem praticamente fechada. Muito provavelmente as roupas de verão vão ficar aqui. Vai ser uma aventura, quase um acampamento, na casa da sogra.

Faltam praticamente 2 semanas pra entregar o apartamento para o novo proprietário. Falta muito pouco pra nossa ‘viagem’ começar.

novembro 19, 2009

a história da mudança [14] – a língua

Gosto de outras línguas. Tenho facilidade pra aprender outros idiomas, acho que é uma coisa inata. Uma amiga astróloga disse que meu mapa mostra dons musicais. Pode ser, já que a língua nada mais é do que uma série de arranjos sonoros [ah!, os estudos pra tese...]. Arranho um espanhol, tateio um francês, brigo com o italiano e posso dizer que falo, leio e escrevo bastante bem o inglês. Já do português, não digo nada.

Sempre tive contato com outras línguas. Quando pequeno fui parar numa escola maternal de garagem que era toda em inglês. Depois tive aulas de inglês no primário e no ginásio. No colegial, a professora era chatérrima e eu sempre dava um jeito de fugir das aulas. Mesmo assim tirava notas acima da média. Em casa, meu pai falava inglês e mais, cantava. Recebia gringos com freqüência.

Quando estava na faculdade, descobri que conseguia ler livros em espanhol, francês, italiano e inglês. E logo saquei que dava pra aproveitar a presença da língua inglesa em nosso dia a dia pra afiar os ouvidos. Rádio e televisão tem sempre alguma coisa em inglês. Um dia resolvi tentar um mestrado na Inglaterra e comecei a estudar sozinho. Ouvia fitas, assistia filmes com as legendas cobertas. Fiz o tal do Ielts acadêmico em 91. Atingi uma pontuação mais que satisfatória pra concorrer a vaga de mestrado. Em 98 me candidatei a uma vaga no doutorado no MIT e tive que fazer o Toefl. De novo estudei sozinho e fui super bem. De 640 pontos possíveis fiz 604 e no Twe fiz 4.5 de 6. Me garanti na vaga.

Pra imigração do Canadá fiz novamente o Ielts. Novamente estudei sozinho e tive notas razoáveis, suficiente pra garantir mais que os pontos necessários pra imigração.
Preciso dizer que gosto de inglês. Mas não só de inglês, mas de todas as línguas. Na acho que terei muitos problemas vivendo no Canadá. Mais importante de tudo, não tenho medo de falar errado, de aprender o certo, de perguntar. Agora, nada como viver num país por anos pra aprender de fato uma língua.

Bia fala inglês. Fez cursos, Cultura Inglesa, essas coisas. Passou um tempo na Irlanda estudando. Também fala sem medo de errar. As crianças têm inglês na escola desde que tem 2 anos e meio. Estão familiarizados com certos sons. Eu falo um pouco de inglês com eles. De vez em quando eles pedem pra assistir o filme em inglês. Acho que não terão problemas com a língua. Ou com as línguas.

Nunca me esqueço de dois exemplos acontecidos na família. O primeiro aconteceu com minha irmã caçula, a Guy. Certa vez nos encontramos com uns ‘primos’ do outro lado da família do irmão de meu pai. O menino tinha a mesma idade da Guy, por volta de 6 anos e, por um acidente do destino, era surdo-mudo. Os dois brincaram o dia todo. No fim do dia, ela estava empolgada, contava as peripécias dos dois, que haviam conversado isso e aquilo. Minha mãe perguntou o que tanto conversavam. ‘Sobre tudo, ué!’, disse ela. Não havia percebido que o priminho não falava e nem escutava.

A outra estória envolve meus sobrinhos Bia e André. Foram morar nos EUA quando ela tinha 2 anos e ele 2 meses, hoje, ela tem 15, ele 13. Minha irmã falou português com eles até 2 anos atrás. Bia nunca esqueceu a língua materna, fala português com sotaque, mas fala. Quando André veio ao Brasil pela primeira vez passar as férias, aos 8 anos se não me engano, não falava uma palavra de português. Ano passado saiu daqui falando bastante bem, o suficiente pra se comunicar em qualquer situação cotidiana.

Acho que não será difícil pra nós e as crianças, que se comunicam utilizando todos os recursos de linguagem, vão aprender bem rápido. E não tenho dúvida de que nos ajudarão em nossa adaptação.

vida escolar

Estão aí todos os trabalhos feitos pelos trigêmeos em 3 anos e meio de vida escolar. Bastante coisa pra pessoinhas tão pequeninas, não?

novembro 18, 2009

a história da mudança [13] – no clima

Estamos no clima de mudança faz tempo, desde que vendemos nosso apartamento, em agosto. Desde então vimos desmontando tudo, ao mesmo em que procuramos dar os primeiros passos no Canadá.

Os móveis, que são todos da família, já foram mapeados pelas irmãs que vão retirá-los até o final do mês. A mesa da sala foi comprada pelo comprador do apartamento. Os armários da cozinha já estão vazios, sobrou apenas o essencial. Bia fez um mini bazar e vendeu tudo que tinha algum valor. Os objetos de decoração já foram selecionados, o que vai já está embalado. Ontem foi a vez das roupas e o armário está praticamente vazio. Casacos, paletós, sobretudos, jaquetas, vai tudo pro tintureiro, quero dizer, lavanderia. O que tinha pra dar, demos. Meus livros estão sendo selecionados a seis meses. Tarefa das mais difíceis. Consegui reduzir minha pequena biblioteca a uns 150 livros. Documentos que temos que levar acho que vão chegar a 10 kg. Agora faltam as coisas das crianças, roupas, brinquedos, livros, cds, dvds.

Numa das listas de discussão sobre imigração pro Canadá, descobrimos que poderíamos levar todas as nossas coisas em caixas ao invés de malas. São duas vantagens: a caixa pesa 5 vezes menos que uma mala e é 30 vezes mais barata. Uma caixa reforçada custa em torno de $10 e uma mala de qualidade intermediaria custa em torno de $ 300. Como tempos direito a 2 bagagens por pessoa, podemos levar até 10 volumes de 32 kg cada um. Vamos levar 2 malas com roupas para o uso diário. Para acomodar roupas e casacos nas caixas vamos usar um saco plástico que fecha a vácuo, chamado space bag que reduz o volume em mais de 50%.

Enquanto arrumamos tudo isso, compramos nossas passagens, tiramos vistos americanos pras crianças e canadense pra minha mãe, abrimos conta em banco no Canadá, pré-selecionamos escolas pras crianças, alugamos uma casa mobiliada por um mês.

O mais difícil vai ser sair de casa pra ficar acampado na casa da sogra. Coitada, vai ter que agüentar mais 5 em casa. Mas como estaremos nas férias, acho que não vai ser tão ruim assim. É muito provável que as roupas que levarmos pra sua casa não sigam viagem conosco.

Ainda falta fazer um monte de coisas. Fechar contratos de serviço, fechar conta no banco, vender os carros e outras coisas. Mas vai dar tempo...

fabi

Tudo bem, sei que demorei pra colocar uma foto da Fabi aqui. Antes tarde do que nunca, né!?

laura, a ajudante

De vez em quando Laura resolve tomar conta de algumas coisas, quando não de pessoas. É comum vê-la tomando conta dos meninos, fazendo coisas por eles, indo em socorro deles. Também vejo com freqüência os dois pedirem a ajuda dela para resolver alguma coisa, como mexer no controle remoto do dvd e coisas assim.

De uns tempos pra cá ela resolveu ajudar na arrumação da casa. Antes de ir pra cama tem dado uma geral na sala do tatame, guarda brinquedos, organiza a mesa, arruma as almofadas do sofá. Sábado passado ela passou pano na sala e arrumou as camas. Que continue assim por que no Canadá cada um vai ter que contribuir com usa parte para o bem estar de todos.

novembro 17, 2009

dos cadernos do infantil 2 [1]

[um desenho recente da Laura. repare na camisa que faz referencia ao Sao Paulo]

Agora, dá uma lida nesses recados da Laurita sobre a Laura.

Laura
23/05 Octavio e Bia, hoje achei a Laura muito quieta! Quase não participou das brincadeiras... ela ano é assim! Um abraço, Laurita.

11/06 [devíamos estar viajando...pelo Canadá...]
Dona Maria Augusta, tudo bom? A Laura gostou de uma bolachinha que a Rafaela trouxe de lanche hoje. Eu perguntei se ela queria que eu escrevesse para a vovó dizendo como se chama!! ‘E um saquinho cor de laranja com o nome ‘B...C....’ sabor queijo. É só uma sugestão!! Um abraço, Laurita.

25/06
Octavio e Bia, a Laura se queixou de dor de barriga algumas vezes. Não telefonei porque deu para contornar com massagem! Não sei se era tão forte. Um abraço, Laurita.

a história da mudança [12] – achados

No meio dos guardados dos trigêmeos, achei os cadernos do infantil 2, primeiro ano de escola deles, em 2007. Era um caderno em que a Laurita anotava alguns recados e certas ‘ocorrências’ mais significativas. Achei o máximo. E ao invés de guardar o caderno, vou transcrever alguns trechos mais legais e armazenar digitalmente.

Por coincidência encontrei a Laurita na entrada da escola hoje. Como sempre um doce de pessoa, quis saber como estavam nossos preparativos pra viagem. Vamos sentir falta dela. E da escola também. Mas tenho quase certeza, pelo que pesquisei de educação no Canadá, de que as escolas em Calgary são tão boas ou melhores do que o Progresso.

a história da mudança [11] – sobre mudar

Mudança é isso. Achar coisas que estavam guardadas, que não se via há muito tempo. É surpreender-se com o achado, com a coisa em si, com o fato de ter guardado aquela coisa por algum motivo. É ter que decidir se continua guardando ou joga fora. E numa mudança internacional, os critérios têm que ser mais rigorosos. A sensação de perda, de deixar pra trás, é grande. Por outro lado, a sensação de renovação também é intensa.

novembro 16, 2009

Surpresa ! ! !

Sábado de manhã, eu estava encaixotando coisas pra nossa mudança [pois é, vamos levar tudo em caixas, nada de malas] quando o interfone toca e o Edmar, um cão de guarda, me diz: ‘Octavio, chegou um sedex pra você’. ‘Tudo bem, Edmar, manda aqui pra cima. Obrigado’. Abro a porta do vestíbulo [essa é a palavra certa pra usar no lugar de hall, caso alguém queira escrever um português legítimo] e espero pelo elevador, abro a porta quando ele chega e dou de cara com uma caixa amarela enorme. Não era um simples sedex, era um sedex gigante!

Pego a caixa e vejo lá o remetente: Jussara, de Cuiabá [ela é leitora assídua do blog, além de uma das mais ativas comentadoras]. O sorriso em meu rosto foi involuntário, se abriu assim, sem querer, sem nem tempo de eu perceber que já pensava com meus botões: ‘Essa menina é louca! Uma caixa desse tamanho!’ Peguei um estilete pra cortar as fitas adesivas e fui me dirigindo pra sala do tatame, onde estavam as crianças, assistindo o hit parade de todos os tempos aqui de casa, o Harry Potter. Entre já fazendo um estardalhaço: ‘Crianças, olha o que chegou pra vocês!’ Quando Bia viu o tamanho da caixa e o conteúdo, não acreditou...

Abri a caixa, repleta de presentes, presentes pra todos nós e cartinhas. Não contei mas acho que não demorou 3 minutos pra caixa estar vazia. Parecia Natal, de tão excitadas ficaram as crianças. Estavam eufóricas com os presentes, todos muito legais. Foi uma alegria geral. Cada um ganhou um presentão diferente: Laura um estojo cheio de coisas que ela adora, Diogo um livro de dinos com esqueletos pra montar e Mario um mergulhador com uma tartaruga enorme. Além disso, ganharam um bichinho desses de colocar na água e esperar pra crescer, adesivos hot wheels, bichinhos trasnparentes de grudar na janela, camisetas com bichos do Pantanal, Bia ganhou um livro, eu um cd e todos ganhamos pequenos objetos símbolos do Pantanal. Devo ter esquecido de alguma coisa...ah! Laura ganhou um chaveirinho de sandália do São Paulo [quem se lembra dessa história?].

Sei que nunca vi as crianças tão felizes assim. Laura foi logo escondendo suas coisas no seu ‘cafofo’ e brincou com as coisas dos irmãos. Diogo quis logo montar seus dinossauros e Mario, vaidoso, quis vestir a camiseta.

As cartinhas, perfumadas, escritas com letra primorosa, cheirosas, super afetuosas. Tenho que confessar, fiquei emocionado com tamanha demonstração de carinho.

Jussara, muito obrigado, adoramos sua surpresa! Um grande beijo, de todos nós.

novembro 15, 2009

a história da mudança [10] – explorando Calgary e Vancouver

Se é difícil fazer uma mudança, imagina fazer uma mudança de país com trigêmeos a tiracolo! Mas o Canadá é um país de imigrantes e a estrutura que o país tem para receber os recém-chegados é impressionante. Há varias agências de apoio e mais importante, a própria população está acostumada a ajudar aqueles que parecem meio perdidos no começo.

Tínhamos que começar por algum lugar e se não era através de empregos, teria que ser através da escolha de uma cidade. Tentei algumas vagas nas universidades canadenses, mas não tive sucesso em nenhuma. Acho que me candidatei para umas 8 vagas, mas nada. O processo que me levou mais longe foi na Universidade de Calgary. Na Universidade de British Columbia tentei até uma vaga de pós-doc, que bateu na trave.

Muito antes de escolher a cidade, já estávamos entre Vancouver e Calgary. Não só porque já conhecíamos as duas cidades, mas por causa de algumas considerações geográficas, urbanas e climáticas. Eu prefiro clima seco, então as cidades canadenses do Atlântico estavam fora de questão. Mesmo Toronto, que não é na costa do Atlântico, é muito úmida, por causa dos grandes lagos. E umidade significa neve, muita neve, metros e metros de neve. Tudo bem, Vancouver é bem úmida e cercada de água por todos os lados, mas é uma umidade do Oceano Pacífico, diferente, não sei explicar.

Quanto a questão urbana, apesar de Toronto ser uma das cidades mais multiculturais do mundo, apesar de Quebec ter o charme da história, apesar de Montreal ser charmosíssima e apesar de Ottawa, a capital, ser belíssima, Calgary e Vancouver nos atraíam ainda mais. Haviam outras opções, como as capitais das outras províncias da pradaria, como Winnipeg e Regina, mas achamos muito isoladas e pequenas. Além disso, a paisagem é plana, plana, plana, o que nos pareceu um pouco monótono.

Em relação ao frio, bom, o Canadá é frio, qualquer que seja o lugar. Vancouver talvez seja um pouco menos frio, mas nada muito signficativo.

Em setembro de 2008 partimos para uma viagem de exploração ou de reconhecimento das duas cidades, Calgary e Vancouver. [Já contei sobre essa viagem em alguns posts aqui, aqui, aqui e aqui, aqui e aqui]. Nas duas nos hospedamos em Bed&Breakfast, o que nos ajudou muito. Poder conversar com pessoas locais com tranqüilidade foi muito bom. Em Calgary, o casal que nos recebeu tomava café da manhã conosco todos os dias e aproveitávamos pra perguntar coisas sobre a cidade.

A idéia era conhecer estas cidades com olhos de quem vai se mudar pra lá. Então fomos ao mercado e ficamos rodando, olhando preços e produtos. Usamos os transportes públicos. Dirigimos. Conhecemos escolas pras crianças. Exploramos bairros. Fizemos entrevistas de empregos, agendadas antes de viajar. Andamos e pedalamos pelos parques, fizemos passeios curtos e visitamos pessoas que moram por lá, brasileiros e estrangeiros. Em Calgary, conhecemos alguns brasileiros que já se mudaram há uns 2 ou 3 anos. Em Vancouver visitamos um casal de canadenses recomendado por amigos brasileiros que nos mostraram uma pequena cidade nos arredores chamada Tswassenn.

A nota triste em Vancouver foi rever Vicki e Lutz. Almoçamos com Vicki num restaurante em downtown. Ela nos preparou pra encontrar Lutz, que estava muito mal, nas suas últimas forças. Ele estava numa casa de 10 quartos que contava com toda a infra-estrutura de um hospital. Foi triste ver meu amigo naquele estado. Peguei sua mão e conversei com ele, disse que estava muito feliz em revê-lo. Ele chorou. Já não falava mais. No dia de nossa partida ligamos pra Vicki e ela nos avisou que ele tinha morrido. Foi triste.

Enfim, depois de 9 dias em cada cidade, achamos que Calgary seria a melhor cidade pra nós. Com 1 milhão de habitantes, perto das montanhas rochosas, uma infinidade de parques espalhados por toda a cidade, 600 km de trilhas pra caminhada e bicicleta, clima seco e pouca neve, Calgary nos pareceu ideal. Uma cidade pequena, quase provinciana, mas com um toque cosmopolita, multicultural. Chegamos a conclusão de que Vancouver seria perfeita se não tivéssemos filhos. Como dizem os próprios canadenses, Calgary é uma cidade family oriented.

Eu achei a cidade encantadora, com a vista das montanhas ao longe, muito arborizada. Os parques são de encher os olhos, os dois rios que cortam a cidade com águas cristalinas. Em pouco tempo senti que dominava a cidade, que a compreendia, que sabia me encontrar nela. Ccalro que não vimos tudo e muitas coisas vão nos surpreender quando mudarmos pra lá, mas não teria graça se assim não fosse, não é?

Voltamos pra casa felizes, mas ainda teríamos muito tempo pra esperar pelos vistos.

novembro 14, 2009

a história da mudança [9] – o processo de imigração

Chegamos de viagem em meados de junho. Uma semana antes da festa junina do colégio dos trigêmeos. Reencontrar os pequenos depois de 20 dias de viagem foi uma alegria sem tamanho. Estávamos, já, decididos a entrar com o processo de imigração. Bia queria dar entrada no processo imediatamente.

Eu, como sou precavido, cauteloso e estou acostumado a esperar para que os projetos aconteçam, resolvi estudar um pouco. Fizemos muitas pesquisas, falamos com algumas pessoas que conheciam canadenses ou o processo de imigração, lemos tudo o que havia pra ler, fizemos contato com listas de discussão sobre o assunto, enfim, passamos por todo o material disponível.

O mais importante foi entrar no site do governo canadense e baixar todo o material possível. O Canadá tem um ministério que cuida de imigração e cidadania [Citizenship and Immigration Canada] com todas as informações necessárias para os que pensam em imigrar. Há vários processos diferentes, diversas modalidades. Escolhemos o processo Skilled Worker e nos preparamos. O primeiro passo era fazer um teste pra verificar se a família perfazia os pontos requeridos pelo país. Pronto! Podíamos dar início ao processo.

Tivemos que preencher vários formulários. E em outubro de 2007 enviamos tudo pro consulado em São Paulo. Agora era esperar. E esperamos. Cerca de 6 meses depois recebemos um a correspondência solicitando uma série de documentos. Parecia gincana, tínhamos 4 meses pra enviar tudo pronto, mais alguns formulários preenchidos, fotos e outras coisas, além de pagar uma taxa. Em junho de 2008 enviamos um pacote para o consulado. E mais espera.

O consulado entrou em contato conosco apenas um ano depois, em julho de 2009. Solicitavam atualização de alguns documentos e formulários. Fizemos isso o mais rápido possível. Em meados de setembro nos enviaram alguns formulários pra que fizéssemos uma série de exames médicos. A família toda. E tinha que ser num dos médicos credenciados pelo consulado do Canadá. Cumprida essa etapa, era aguardar pelo pedido dos passaportes para a emissão dos vistos de imigrante. E exatamente 2 anos depois de dar entrada no processo fomos a São Paulo para retirar nossos passaportes com os vistos de imigrantes.

Foram 2 longos anos de espera. 2 anos de angústia, de alegria, de planejamento. 2 anos dedicados a um projeto que na verdade começa agora, com nossa ida para o Canadá. Durante esse tempo, fizemos ainda uma outra viagem para o Canadá para conhecer de fato, sem olhos de turista, as duas cidades que havíamos escolhido pra ser nossa entrada no país. E nesses últimos meses, temos trabalhado pra ‘fechar a conta’ no Brasil, vender casa, coisas, carros, terminar contratos, por um ponto final em tudo e abrir a conta no Canadá. E isso é um pouco mais complicado, é como dar o ponta pé inicial à distância.

No meio de tudo isso, nossas famílias e principalmente, os trigêmeos. Não foi muito difícil convencer as famílias de que seria muito bom pra nós mudarmos pro Canadá. Mas sempre rola um certo clima, não tem jeito. E com as crianças, tomamos o maior cuidado para não gerar muita expectativa e ansiedade. Durante o primeiro ano de processo, falamos pouco no assunto. Depois de nossa viagem de 2008 abrimos o jogo com eles e começamos a falar abertamente sobre mudar de país. Hoje eles querem ir logo pro Canadá. Como a mudança já está próxima, fica mais fácil de administrar a ansiedade.

Esses últimos meses tem sido de aventura. A aventura de reinventar nossas vidas. Faltam 75 dias pra nossa mudança.e ainda tenho um monte de coisas pra contar sobre tudo isso.

bolinho

Fizemos um bolinho a tarde pra apagar uma velinha com as crianças. Só pra não passar em branco. Aproveito pra agradecer a todos os votos de felicidades pelo ‘cumpleaños’. Como dizia minha avó que não era espanhola nem nada ‘salud e platas’ a todos.

adivinha quem ligou?

Eu tenho doze sobrinhos, de várias idades diferentes. São seis meninas e seis meninos. Sabe quem foi o único que me ligou pra desejar parabéns no dia de meu aniversario? Claro que foi o Gabriel!

E olha, o comentário do pai do Gabriel é um grande evento pra esse blog. Quero dizer a ele que o pequeno tem ‘room and board’ [casa e comida, pensão completa] garantido se quiser ir morar com a gente no Canadá.

dor de ouvido

Diogo urrava de dor. Nunca vi o menino chorando tanto de dor. Verão é isso aí, muita piscina, dor de ouvido na certa. Acordou às cinco da madrugada, chorando. Não foi a escola. Fomos contornando com analgésico o quanto pudemos, pra ver como a coisa evoluía. Acabamos no pronto socorro. Nada grave. Depois de novamente medicado, dormiu sentado, esgotado. Um tempo depois fui deitá-lo na cama e ele permaneceu na mesma posição, imóvel. É de partir o coração, não é?

novembro 13, 2009

a história da mudança [8] – outras motivações

[os trigemeos em maio de 2007, pouco antes de nossa viagem]

Votei no Lula no primeiro mandato com reais esperanças de que ele imprimiria mudanças significativas. Ledo engano. Tenho convicção de que o Brasil, um país em que a esmagadora maioria é pobre, precisava de um presidente que dedicasse menos atenção às minorias ricas. Se isso foi de fato feito e a vida da população em geral melhorou, por outro lado, os ricos continuaram mais ricos. Símbolo disso são os lucros astronômicos dos bancos. Acho que o Brasil é o país em que os bancos mais lucram no mundo todo. Fora isso, áreas essenciais como educação e saúde não apresentaram melhoras. Pelo contrário. Nas eleições seguintes votei no Cristovam Buarque, mas parece que ninguém ouviu suas idéias. Eu, como ele, acredito que a solução do Brasil está na educação.

Não bastasse isso, há os motivos mais, digamos, usuais como a violência, os altos impostos e nenhum retorno em educação, saúde e transporte, a corrupção. Eu comecei a implicar com tudo: com o atendimento nos lugares públicos, com os bancários, com os garçons, com os motoristas violentos e mal-educados, com a classe media cada vez mais deseducada, com os endinheirados muito cheios de si, com a miséria batendo a minha porta.

Incrível, mas tem uma hora que você vê o tempo passando, você ficando velho e aqueles problemas que você começou a enxergar quando tinha 17 ou 18 anos, ainda estão lá, no mesmo lugar e talvez piores. Comecei a desconfiar que não haveria saída pro Brasil, comecei a entender que o país é assim, sempre foi e não vai mudar. Trata-se de uma questão cultural. Depois de ler os 4 livros sobre a ditadura do Elio Gaspari e 1808 do Laurentino Gomes, tive a confirmação pra minha desconfiança.

Agora, pensa isso tudo e ainda por cima ter que pensar no futuro da próxima geração, para a qual você contribuiu com 3 pequenos integrantes. O que será desses trigêmeos nesse Brasil? O que será de nós, Bia e eu, tendo que pagar plano de saúde, pagar escola por pelo menos mais 20 anos, pagar por segurança, vivendo fechados em condomínios, agüentando governos corruptos, convivendo tamanha desigualdade social? Era isso que queríamos pro nosso futuro, pro futuro de nossos filhos? Decididamente não.

Eu andei tão chateado com as coisas aqui que até um outro blog inventei pra tratar desses assuntos. Agora estou tão cansado disso que até esse blog anda meio esquecido. Como se vê, motivos não faltavam e não faltam pra gente querer sair do Brasil. Em contrapartida, havia motivos de sobra pra considerar o Canadá como um destino para o futuro.

Decidimos, então, depois de muita ponderação, imigrar para o Canadá. E entramos com um processo nos candidatando como imigrantes qualificados. E lá se somariam mais 2 anos de história.

a história da mudança [7] – motivações

Como já contei, Bia e eu sempre quisemos voltar a morar fora do Brasil. Nunca havíamos pensado no Canadá. Em 2007, época de nossa viagem, tínhamos vários motivos pra pensar em imigração, todos válidos ainda hoje.

Passou meio batido pra mim quando o irmão da Bia, em 99, foi ao Canadá e voltou de lá falando em mudar, imigrar. Ele falou disso um tempo, estudou francês, mas depois acho que esqueceu. Isso foi logo depois que voltei do MIT. Em 2000 nos casamos. Enquanto minha vida pessoal ia de vento em popa, minha vida profissional era um martírio.

Passei 6 anos de sofrimentos na universidade em que trabalhava. Nunca me considerei um professor brilhante, mas estava longe de ser um professor ruim. Até hoje me orgulho de conseguir manter a atenção de 80 alunos em sala de aula. Pra quem conhece cursos de arquitetura sabe que isso é bem difícil. E eu conseguia fazer isso com aulas teóricas de História da Arquitetura Brasileira. Além dos 80 alunos da turma, eu ainda conseguia atrair a atenção de alunos de outros anos. E isso durou uns 3 semestres. Além disso, eu dava um curso de linguagem da arquitetura que me deixava esgotado, mas que também era bastante respeitado pelos alunos.

Depois de um tempo, graças à política educacional do Paulo Renato e do FHC, que permitiu abrir cursos de qualquer coisa em qualquer lugar, a escola foi diminuindo, o clima foi ficando tenso. O diretor não me via com bons olhos, promovia inclusive uma certa vigilância sobre mim, uma espécie de perseguição velada, sempre inventando algo que pudesse me comprometer. Durantes uns 2 anos eu dei um curso de desenho com modelo nu, como se faz na FAU USP desde sempre e quase fui demitido. Dava o curso escondido, numa sala fechada, longe de todo mundo, em segredo. Sorte minha que isso não um tratamento exclusivo a mim, a perseguição rolava sobre alguns outros colegas também. Depois de muita briga e pressão, o tal diretor acabou indo embora. Mas a universidade já ia de mal a pior.

Em 2002 entrei no doutorado da FAU USP e procurei a única pessoa que poderia me orientar no nível de exigência que eu mesmo me colocava. Foi um privilégio aproveitar da sabedoria de Lucrécia D’Alessio Ferrara durante a feitura da tese. Foram 4 anos de produção intelectual intensa e a tese saiu a contento, melhor do que eu esperava. A defesa foi em 2006, no dia em que comemorava os 80 anos de nascimento de meu pai, 31 de maio. Um mês depois a universidade ofereceu um plano de demissão voluntária focando, principalmente, os professores doutores. Quem ficasse teria o salário diminuído em quase 50 por cento. Não dava mais, não agüentei. Saí.

Como em todas as atividades em que me envolvo, eu me entregava à universidade de corpo e alma. Sou um idealista e me dedicava integralmente, comprei o projeto, o defendia com ganas. Dava aulas apaixonadamente, me envolvia na política educacional, procurava contribuir em todas as áreas em que pudesse. Mas nesse período a educação no Brasil mudou muito e pra pior. Foi a época do varejo das universidades, cursos abrindo sem parar em quaisquer condições. Os alunos pioravam, as condições de trabalho eram cada vez mais precárias, a universidade, que um dia havia tido um projeto, deixava de investir e aderia ao varejo da concorrência. Eu me desanimei completamente. Desisti. Não foi fácil, mas achei que seria melhor ficar longe disso do que adoecer de tanto sofrimento.

Tentei mudar de área, contratei um consultor de carreira que depois de um mês trabalhando comigo disse que eu deveria investir em educação mesmo. Tive arrepios. Depois disso ainda fiz 2 concursos públicos em universidades federais. Saí classificado nos 2 em primeiro lugar, mas não fui efetivado em nenhum deles.

Se por um lado, a falta de perspectivas profissionais no Brasil era um forte motivo pra olhar o Canadá com muito bons olhos, por outro, as condições de nosso país davam o empurrão que faltava pra realizar uma mudança definitiva.

novembro 12, 2009

a história da mudança [6] – descobrindo o canadá

Descemos do navio e nos hospedamos num pequeno hotel no downtown Vancouver. Sou muito mais ‘experiente’ viajando por terra. Aliás, andar a pé é um dos melhores jeitos pra se conhecer qualquer cidade. Andamos por ali por 3 dias. Vimos o que foi possível ver em 3 dias. Ainda pegamos um ferry pra Victoria. As duas cidades nos encantaram, contudo, o ponto alto de Vancouver foi o reencontro com nossos amigos.

Vicki e Lutz nos convidaram, na verdade pra jantar. Jantar da América do Norte, às 6 da tarde. Pegamos um ônibus em downtown e chegamos em Richmond lá pelas 4. A casa delas nos encantou pela simplicidade, pela alegria, pelo aconchego. Tomamos um vinho, vimos a horta de Vicki, conhecemos seus gatos. Ficamos sabendo há alguns anos atrás Lutz havia trocado todo o piso da sala e colocado as lindas tabuas corridas, sozinho. Ficamos na cozinha, batendo papo, como fazemos no Brasil. Nos sentimos em casa.
Acompanhamos os preparativos do jantar, que foi servido pontualmente. Uma deliciosa salada com ingredientes da horta e um suculento canadian beef [Alberta triple A] acompanhado de um autêntico risoto italiano. Depois fomos passear a pé pelas redondezas e 20 minutos depois estávamos a beira mar, em Steveston, lugar histórico, que concentrou a colônia de pescadores japoneses no inicio do século 20.

Nos despedimos de Vicki e Lutz com a certeza de que havíamos encontrado amigos pra toda a vida. Tristes pela despedida, felizes pelo encontro e com uma grande expectativa pelo resto de nossa viagem.

Deixamos Vancouver em direção a Calgary, onde pegaríamos um motorhome para 5 dias nas montanhas rochosas. Do avião, a cidade me impressionou, mas não ficamos nem 2 horas por ali. Foi descer do avião, entrar no motorhome, fazer compras pra passar 5 dias e partir pra estrada.
Foram 5 dias de aventura. Paisagens espetaculares, trilhas surpreendentes e lugares maravilhosos ao longo de pouco mais de 300 km de estrada que cruzam os mais antigos parques nacionais das Américas. Levamos 3 dias de Banff a Jasper e mais 2 dias pra voltar. De fato, um dos passeios mais bonitos que já fiz.
A estrutura dos parques nos deixou de queixo caído. A experiência de viajar de motorhome nos encantou. Nos campings encontramos banheiros limpos, chuveiros quentes, locais pra fazer fogueira, hubs de energia elétrica, tudo. E encontramos pessoas interessantes. Logo no segundo dia encontramos um casal de poloneses imigrantes, com seu filho pequeno, da idade dos trigêmeos. Conversamos muito, jantamos juntos, nos divertimos. Peter e Isabela nos deram varias informações sobre a imigração. E também nos incentivaram a nos mudar para o Canadá.

Voltamos pra casa com a melhor das impressões do país. Organizado, infra-estrutura instalada, economia estável. Belezas naturais e um povo hospitaleiro. Mais que isso, descobrimos que o país é feito de imigrantes do mundo todo. Pronto! Estava dado o primeiro passo pra nossa decisão de mudar. Mas não só o encantamento com o Canadá seria razão pra isso, outras motivações nos moveram também. E a coisa ainda iria demorar um pouco.

46

Em 1963, nesse mesmo dia 12 de novembro, às 7:40 da manhã, na cidade de São Paulo, nascia um menino que foi chamado Octavio. O menino se transformou nesse homem, quase velho, o pai dos trigêmeos que vos escreve. Há 46 anos atrás.

novembro 11, 2009

a história da mudança [5] – vicki and lutz no seven seas mariner

Pra quem não queria viajar de navio, eu estava no paraíso. A viagem e o navio superaram em muito minhas expectativas. Minha resistência a viajar de navio era a impressão de estar confinado com milhares de pessoas, obedecendo a horários restritos, tendo que almoçar sempre com as mesmas pessoas, na mesma mesa, essas coisas de cruzeiro. No Seven Seas não senti nada disso, muito pelo contrário.
A comida era simplesmente espetacular, o café da manhã era ‘a la carte’, a variedade de opções para almoço e jantar enorme. As áreas livres eram espaçosas. Aproveitamos pra fazer esportes todos os dias, nadar, tomar uma jacuzzi, correr, jogar raquetinha. Os passeios em terra eram ótimos. Além disso, a cabine tinha uma pequena varanda que nos permitia aproveitar os ares gelados do Alaska.
Foi tudo perfeito. Agora me pergunte: você faria outra viagem de navio? E eu diria: acho que não, só se fosse no mesmo nível! Exigente é pouco! Agora me pergunte o que de fato interessa: o que essa viagem tem a ver com o fato de mudar pro Canadá? Vamos lá!

Na segunda noite no navio tivemos o famoso jantar com o comandante e a tripulação. Já que eu estava na chuva, tinha que me molhar. E fui falar com o comandante, um ítalo-americano, animado, boa praça. Ao cumprimentá-lo e conversar com ele, se aproxima uma senhora morena, que o cumprimenta em italiano. Como eu estava do lado, cumprimentei-a também, em italiano. Enquanto algumas outras pessoas vinham falar com o comandante o meu parco italiano foi a deixa pra puxar papo com a senhora.

Logo chamei Bia para apresentá-la também. E a senhora chamou seu marido. Eram Victoria Ruscito e Lutz Moritz, um casal de canadenses de Vancouver. Conversamos um pouco, tomamos um champanhe e nos sentamos na mesma mesa para o jantar, apenas nós quatro. É gostoso conhecer pessoas assim, conta isso, conta aquilo, você tenta fazer um mapa esquemático de quem é você, o que faz, o que pensa e tenta compreender quem são as pessoas que vê pela primeira vez. E nossa afinidade foi imediata. Lutz era reservado, porém cheio de histórias pra contar, filho de alemães imigrantes, ficou viúvo quando os 3 filhos eram pequenos, criando-os praticamente sozinho. Era pai de um rapaz, pesquisador da UBC e de gêmeas. Na verdade a gestação foi de trigêmeos mas o pequeno menino faleceu. Vicki, casou-se com Lutz, mas não tiveram filhos. Era italianíssima, expansiva, calorosa, filha de italianos imigrantes.

Durante todos os outros dias da viagem nós 4 fizemos pelo menos uma das refeições juntos, tomávamos um drinque no fim da tarde, assistíamos aos shows de jazz, fazíamos passeios. Ficamos amigos. Muito amigos. Eu gostei muito de Lutz, era um cara muito interessante, pesquisador de um dos mais importantes laboratórios de pesquisa nuclear no Canadá. Bia e Vicki trocavam confidencias que só os latinos se permitem fazer com pessoas praticamente desconhecidas. Nos identificamos, nós 4. Mas, para nossa tristeza, Vicki nos contou, em segredo, que Lutz sofria de um câncer cerebral terminal e que tinha poucos meses de vida.

De qualquer forma esse casal foi decisivo em nossa opção de mudar para o Canadá. Nós contamos um pouco de nossa insatisfação com a situação do Brasil e de nossa preocupação com o futuro dos trigêmeos. Nessa época pensávamos em nos mudar para o Colorado, onde minha irmã está a mais de 10 anos. Então, eles nos contaram de suas vidas, das vidas de seus pais imigrantes, nos ofereceram uma perspectiva do país e que tínhamos o perfil do imigrante que o Canadá desejava. Eles nos abriram os olhos para a possibilidade de imigrar legalmente para um país estável. E nos incentivaram a entrar com o processo de imigração.

Ao nos despedirmos de Vicki e Lutz no navio, eles nos convidaram pra almoçar em sua casa em Vancouver. Nós fomos, é claro. E em Vancouver começou uma outra parte importante para nossa decisão de imigrar.

apresentação de ginástica

[Laura e o prof. Renato na preparacao de um dos exercicios. Ela puxou a fila dos pequenos]

No sábado de manhã, os trigêmeos tiveram a apresentação de fim de ano da ginástica natural que nada mais é do que uma iniciação à ginástica olímpica. 80 crianças de 3 a 12 anos reunidas no ginásio. Gostei de vê-los se divertindo. Os pequenos da idade dos tri fizeram um circuito com cerca de 7 exercícios e com duração de mais ou menos 15 minutos. Eles se divertiram bastante, ganharam medalhas, ficaram orgulhosos com a realização. E pra alegria geral, ganharam um sorvete!

[Diogo e Mario, compenetrados e muito contentes]

[a profa. Verena e o trio 'maravilha', como ela os chama]