fevereiro 03, 2009

mais do meu tempo de escola

O texto anterior me fez lembrar de mais coisas dessa época.

Muitos estrangeiros moravam no Brooklyn nos anos 70. Os vizinhos do lado direito eram alemães, uma senhora doce chamada Don’Ana. Ela tinha um cachorro salsichinha chamado Putsy. Acho que os vizinhos da frente eram suecos. O vizinho de fundo era o Agnaldo Rayol. E os do lado esquerdo eram alguma coisa, menos brasileiros. Fizemos rodízio com outra família, acho que eram judeus. O menino, um pouco mais velho que eu, tinha o apelido de Bubby e cheirava a salame, sem brincadeira. O carro cheirava a salame. Sério! E era um carrão importado e antigo, preto, o interior era todo vermelho, as portas traseiras abriam ao contrário, sabe como é? Abriam para trás e não pra frente, a dobradiça ficava atrás e o trinco no batente do meio do carro.

Nossa casa não tinha muro na frente. Tinha um estilo bem norte americano. No jardim da frente tinha um pé de Jasmim do Cabo [ou Jasmim Manga] e um dia de manhã apareceu uma colméia de abelhas africanas. Passamos por algumas horas de terror presos dentro de casa. Tivemos que chamar os bombeiros.

Entre 71 e 74 fomos assaltados quatro vezes, com ladrões dentro de casa. O carro de meu pai foi levado por ladrões por algumas vezes. Acordávamos de manhã e o carro não estava lá. Acho que em 73 meu pai mandou construir um muro de 4 metros em frente à casa. Não adiantou, fomos assaltados mais uma vez. Isso foi determinante pra que meus pais saíssem de São Paulo com a família e escolheram Campinas, onde moramos hoje.

Eram tempos de governo militar, Médici e Geisel, tempos de repressão pesada e as recomendações eram de que não falássemos com ninguém nem aceitássemos carona de ninguém, nem dentro da escola. Eram tempos de um sem número de desaparecidos, políticos e não-políticos. Acho que se praticavam crimes usando a luta armada como desculpa.

Sofremos um assalto em frente à casa de minha avó, Martha, na rua Inglaterra, número 74. Os caras nos pegaram saindo do carro, um Opala 4 portas verde bandeira. Lembro até hoje da cena e da cara dos 4 sujeitos, todos barbados, jovens, carregavam um monte de santinhos de políticos do MDB pra esconder o revolver. Nunca vou ter certeza, mas sempre achei [depois que caiu a ficha do que rolava politicamente nos anos 70] que eram da luta armada, do MR8 ou coisa assim. Isso foi em 74, nas eleições que a Arena achou que tinha ganho mas o MDB arrebentou.

Meus pais tiveram vários carros nesses anos: um fusca cinza e um fusca branco, TL, da VolksWagen, um Opala verde, um Opala mostarda, um Dodge azul marinho, um Galaxy verde menta, um Dodge prateado. Acho que o TL foi o carro mais estranho que a VW já fez em toda a sua história! Não era nem uma Variant e nem um Zé do Caixão! Deve ter sido o primeiro modelo hatch no Brasil.

Eu gostava de namorar. E namorei gêmeas! Quer dizer, eu achava que namorava e elas não necessariamente sabiam disso. Nunca mais encontrei ninguém da minha turma do primário e acho isso meio triste e bem frustrante.

Fui um bom aluno, nada brilhante. Até hoje culpo a professora de matemática pelo fato de não gostar de matéria. Ela era ruim, ruim pra dedéu! Acho que se chamava Iracy ou coisa assim. Nunca vou perdoá-la.

Lembro de tanta coisa...lembro da tv preto e branco. Dos desenhos que adorava assistir. Lembro de ‘Let it be’ e ‘Revolution’ tocando no rádio e da loja de discos Hi-Fi no shopping Iguatemi, o único da cidade até então. E do relógio d’água que tinha lá até outro dia, faz tempo que não vou então não sei se ainda esta lá. Lembro da minha Caloi berlineta azul. Lembro dos livros da Vaca Voadora da Edi Lima. E que não gostava de Monteiro Lobato. Lembro do meu cachorro, o Xodó, que conviveu comigo por 14 anos, dos meus 2 aos 16 anos.

Lembro de um clima, de uma sensação, uma coisa que não tem tradução em palavras, uma coisa que eu sentia que acho que é coisa da infância e da passagem pra pré-adolescência. Mas a memória trai a gente e de vez em quando aparece uma tela na mente que mostra coisas que nem sonhávamos mais lembrar. E outras vezes as lembranças desaparecem completamente. O que sei é que esses tempos de escola estão muito distantes, cada vez mais distantes. E que os filhotes só estão no começo de uma grande aventura chamada vida, da qual faz parte a escola.

2 comentários:

Andréa disse...

A Vaca Voadora foi demais!! Agora você "pegou pesado"!! Hahahahaha... Adorei os dois posts, Octavio! Você tem boa memória, viu?
Beijos,
Andréa
www.picolecarioca.com.br

Anônimo disse...

holy cow!!!!
como dizem por aqui....boy oh boy!
que delicia!
me lembro tao bem dessas mesmas cenas, eventos, traumas......
OBRIGADA!!!!