maio 27, 2008

Com a cabeça nas nuvens

Pois é, eu achava que dormia mas não dormia nada. Acordando de 2 em 2 horas não dava. Pensa bem, dava mamadeira às 10 da noite, me aprontava pra dormir, o que leva uns 10 minutos, ia pra cama. À meia-noite levantava, a função de mamar levava em torno de 20 ou 30 minutos. Deitava de novo. Levantava às 2 da madrugada, função de mamar por meia hora, deitava. Levantava às 4 da manhã, voltava pra cama às 4 e meia. Quando voltava, porque às 6 da matina eu tinha que estar de pé pra me aprontar pro trabalho. Fazendo as contas, dava pra dormir umas 6 horas por noite, com 3 interrupções pelo meio. Isso é tática de tortura, pra minar as energias, desestabilizar o sistema nervoso central.

Bia e minha mãe ainda conseguiam dormir à tarde, mas eu não gosto muito de dormir à tarde e nem tinha tempo. Ficava o dia todo na universidade e ainda tinha que trabalhar na tese. Às vezes tinha que ficar até mais tarde na faculdade e voltar dirigindo era difícil, às 6 da tarde eu já estava um prego. Sorte que a estrada era bastante movimentada e não dava nem pra piscar. Eu ainda usava o artifício da música alta e do Halls, aquele drops que refresca até pensamento.

O incrível é que era só colocar o pé em casa pra aparecer uma energia sabe-se lá de onde. Ficava louco pra ver as crianças, saber das novidades, como tinham se comportado, se estavam todos bem. Eu olhava o quadro com as informações do dia que formava um retrato do funcionamento físico dos 3 e refletia no humor de cada um. Todo dia tinha uma estorinha de um ou outro, o desenvolvimento desses pequenos é incrivelmente rápido. Eles mudam todos os dias, aprendem coisas todos os dias.

Em compensação, eu não estava dando conta do recado na faculdade, apesar de que ninguém nunca me disse nada, nenhum aluno reclamou, deu um toque, nada. Mas tenho quase certeza de que devo ter dado a mesma aula durante os 4 meses do semestre, ou quase isso. Como sempre, eu entrava na sala, passava as coordenadas do exercício, discutia com os alunos as variáveis, as dúvidas e mãos à obra, os alunos tinham atividades durante toda a manhã. Acompanhava o trabalho deles e no final da aula, avaliávamos o que tinha sido feito. No final do semestre, costumava pedir a entrega de todos os trabalhos para avaliação final. E foi aí que me surpreendi, as pastas tinham os mesmos exercícios feitos repetidamente, sempre mais do mesmo.

Foi meio chocante perceber isso. Eu me perguntava o que tinha acontecido ao longo do semestre, mas não adiantou nada, não descobri até hoje. Mas olhando pra trás agora, entendo que não dava mesmo pra seguir o padrão de qualidade que eu mesmo me cobrava antes dos trigêmeos. O semestre seguinte foi bem melhor. Escrever e estudar pra tese então, nem pensar. Acho que só retomei o trabalho no final do ano, em outubro. Eu estava fisicamente um trapo, mas emocionalmente em outra esfera, com a cabeça nas nuvens, em outro planeta. Só conseguia pensar numa coisa: nos trigêmeos!

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