Hoje, levando os trigêmeos pra escola, lembrei de quando era pequeno e me levavam pra escola. Acho que o gatilho foi a vontade que tive de ligar o radio na CBN pra ouvir o noticiário. Bateu um flash do que rolava comigo em 71. É, 1971!
Nessa época morávamos em São Paulo, no Brooklyn [fotos do atual Brooklyn], Rua Martim francisco, hoje rua La Place. Estudávamos no Pio XII, colegio de freira lá no Morumbi, perto do Palácio do Governo e do Morumbi, o estádio do tricolor, time do coração. Eu tinha de sete pra oito anos e estudava de manhã, no primeiro ano primário [o que significaria isso hoje com as recentes mudanças no sistema do ensino fundamental? Acho que segundo ano, não sei...] Fazíamos um rodízio com uma família que morava perto, acho que na rua dos Tamoios, a umas duas quadras da Av. Washington Luis e pertinho de Congonhas.
O rodízio era assim: eles levavam, minha mãe buscava. De manhã, quem nos levava era o seu Manuel, antes de ir pro trabalho [será que era esse o nome dele?], pai da Liete e do Luis Antonio. A Liete devia ter uns 15 anos, morena, pele bem clara e o Luis Antonio devia ter uns 12 anos. Eram bem quietos. Seu Manuel tinha um corcel branco [pra quem não se lembra ou não sabe que carro é, ver aqui e ali], duas portas. Era o carro! Banco de couro, painel com acabamento de madeira escura [ou laminado padrão madeira], umas rodas invocadas. Acho que era o lançamento do ano. O banco era tão liso que a gente escorregava de um lado pro outro nas curvas. E no painel ele tinha um porta retrato, daqueles com imã [é, o painel tinha partes metálicas!], com as fotinhos dos filhos e entre elas um espaço onde estava escrito: ‘Papai, não corra.’
Sei que seu Manuel ia escutando o rádio, sintonizado na Jovem Pan. E aquilo me angustiava um pouco porque era sinônimo de que logo chegaríamos à escola. Não me lembro da voz do seu Manuel, nem do rosto dele, nem do que ele fazia, mas lembro das costas dele ao volante, do cabelo brilhante de Gumex [dura lex sed lex, no cabelo so Gumex] ou Brylcreem [que meu pai usava e ainda existe!]. Lembro também que depois de atravessar a Marginal Pinheiros pela ponte do Morumbi, a Avenida Morumbi tinha uma subida forte, com terrenos vazios dos dois lados e ali ficavam umas trabalhadoras, mulheres da vida, levantando a blusa pros carros que passavam. Isso às sete da manhã! Aquilo era o máximo de contravenção que já havia visto e não tinha idéia do significado daquele gesto.
Os dois segundos em que tive vontade de ligar o rádio, me fizeram lembrar disso tudo. E de outras coisas também. Nessa época, meu pai nunca me levava pra escola. Como era dono de seu negócio, acordava às 9 e voltava pra casa perto das 10 da noite. Tudo isso me fez pensar como as coisas são diferentes hoje em dia ou como eu sou diferente com meus filhos. Tive vontade de ligar o radio mas não liguei. Preferi aproveitar o caminho da escola pra conversar um pouco com os tri. E também me deu um pouco de vontade de chorar...um pouquinho...
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3 comentários:
Nossa, Octavio, você me fez lembrar de coisas muuuuuuuuuito antigas!! A cidade é diferente (moro no Rio, sou carioca "da gema"), mas as lembranças são as mesmas! Meus pais também revezavam com os pais de uma amiga minha nesse leva-e-traz do colégio. Também estudei em colégio de freiras, o Sion, e meu pai tinha um Opala. O pai da minha amiga tinha um Aero Wyllis... ui, q coisa velha! Hahahaha... Ri muito com seu post, mas também senti uma pontinha de nostalgia...
Obrigada por me fazer recordar dessas lembranças que estavam lá no fundo da minha memória!
Beijos,
Andréa
www.picolecarioca.com.br
voce eh incrivel!
me faz lembrar de tantas coisas tambem.....e chorar tambem.....so que nao um pouquinho......
Eu concordo com as meninas aí de cima.Vc escreveu de um jeito que faz todo mundo se remeter ao se próprio passado.Também viajei há tempos atrás.Deu saudade também.Estou no período de adaptação da minha filha de 2 anos, na escola(adaptação mais minha do que dela...rsrs), e tô ainda mais sensível!hehehe
Imagina o quanto me emocionei...
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