Logo de manhã eu cuidava do trio. O quarto tinha uma cômoda entre 2 dos berços, onde trocávamos as fraldas e dávamos outros cuidados quando estavam acordando. Eu pegava um de cada vez, fazia o que tinha que ser feito e depois devolvia ao berço. Por muitas vezes coloquei os 3 no mesmo berço pra que eles brincassem um pouco juntos.
Numa dessas manhãs, estou eu cuidando dos 3 numa boa, tudo tranqüilo. Peguei o Mario, troquei a fralda, recoloquei o macacão e o deitei sobre a cômoda. Nisso, o Diogo, no berço do lado direito da cômoda deu uma reclamadinha e me virei pra ver o que era. Dei uma mexida nele, ajeitei e de repente...TUUUMMM...ouvi um barulho horrível! Quando me voltei pra cômoda novamente não achei o Mario...lá estava o menino no chão!
Não tenho como descrever o que senti, o horror, o medo, o frio na espinha. Quando vi o menino no chão, não sabia o que pensar. Quando ele começou a chorar, foi pior. Me abaixei pra pegar a criança que agora abria um berreiro e estava vermelho que nem pimenta. Eu o abracei e ficava dizendo: ‘O que é que eu fiz? O que é que eu fiz?’ Isso tudo aconteceu em não mais que 10 segundos, uma fração micro do tempo, uma distração infeliz. Não sei o que aconteceu, se o Mario se virou sobre a cômoda e caiu, se eu o coloquei muito na beirada, como ele caiu. Só sei dizer que o barulho que ouvi foi terrível, alto, surdo, impressionante, um barulho abafado. Nunca um barulho me causou tanto medo e dor. Sim, porque doía em mim.
Corri pro meu quarto, chamei a Bia, contei o que tinha acontecido e o menino chorando. Eu comecei a chorar junto, desalentado. Bia pegou o menino no colo, ligou pro pediatra, perguntou o que deveria fazer, tentou me tranqüilizar. Mario estava aos berros. Ficou assim por uns 20 minutos. Depois acalmou e ficou quietinho. A recomendação era acompanhar a reação da criança, se ficasse muito quieta, inerte, seria mau sinal. De qualquer modo deveríamos ir ao hospital fazer uma tomografia.
Eu fiquei o tempo todo ao lado do menino, não conseguia largar dele. A tomografia revelou uma pequena fissura na lateral do crânio, nada grave. Ficaria bem em poucos dias. Foi um alívio. Mas o mal já tinha sido feito, não no Mario, que não teria mesmo nada, absorveria aquilo com uma rapidez que só um organismo jovem tem capacidade de fazer, mas em mim, no pai. Nunca me senti tão culpado na vida. Me senti um farrapo, um nada, um irresponsável, um idiota.
Acho que foi, disparado, o pior dia da minha vida. Passei os dias seguintes desconfiando de mim mesmo, da minha capacidade de cuidar das crianças. Evitei pegá-los no colo, tirá-los do berço. O acidente tinha acontecido mesmo com nossos cuidados para mantê-los sempre no chão. Acho que ainda hoje não superei o trauma, acho que jamais vou esquecer aquele dia, aquele som terrível, meu desespero.
Por sorte, crianças com 4 meses de idade não guardam memórias. Mas eu acho que o Mario tem uma memória física do tombo. Ele é bem precavido com algumas atividades, com certas brincadeiras. Quando levanto bem alto nos braços, ele fica todo tenso, demonstra um pouco de medo, coisa que os outros dois não fazem. Mas pode ser apenas coisa da personalidade dele.
Sempre digo que os pais é que estragam a cabeça dos filhos a ponto desses precisarem fazer terapia. Assim, fica provado que os pais são os grandes responsáveis por estragar a cabeça dos filhos, desde pequenos. Outra coisa que eu sempre digo é que a gente dá risada até das piores coisas depois de passado um tempo. Mas dessa ainda não dei risada não, quem sabe um dia...
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2 comentários:
Não consigo nem imaginar o que passou na sua cabeça naquele momento. Eu já fico tão preocupada com bebês... quando vou visitar algum recém-nascido, nunca tenho coragem de pegar no colo porque eles me parecem tão frágeis.
Mas dar conta de três ao mesmo tempo é tarefa pra super herói, e é preciso lembrar que somos todos humanos, né? Infelizmente, estamos sujeitos a essas falhas eventualmente.
Beijo,
K.
K,
bota humanidade nisso...acho que envelheci uns anos com essa brincaderia de deixar o moleque cair...
beijao
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