Mas a notícia não veio assim, de uma vez, logo de cara, são 3 e pronto. Começou aos poucos, foi um susto de cada vez. Uma semana antes, eu estava trabalhando na mesa de jantar improvisada, na verdade era a minha prancheta feita com um tampo de porta que me acompanhava desde a faculdade, esperando pela Bia para irmos fazer primeiro ultrassom. Havíamos nos mudado a pouco tempo de um apartamento pequeno para esse bem maior, onde ainda moramos, e não tínhamos móveis para ocupar todo o espaço. Nessa época eu trabalhava dois dias por semana em casa, escrevendo minha tese de doutorado. Eu estava lá, escrevendo no meu laptop quando Bia passou. Você não precisa ir não, não vai dar pra ver nada mesmo, só um feijãozinho. Deixa para ir nas próximas vezes, fica aí trabalhando. Tudo bem, eu disse. Boa sorte. De fato, não daria para ver muita coisa, apenas umas imagens com sinais difíceis de identificar, exceto por um especialista. Nos beijamos e ela saiu.
Era uma manhã de agosto e a luz na sala àquela hora era fantástica. Enquanto Bia saía, olhei a vista pela ampla janela, um visual esplendoroso, a praça centenária com suas palmeiras imperiais de mais de 40 metros. Nosso apartamento estava na altura daquelas copas gigantes e isso nos encantava. Eu me concentrei no que estava escrevendo e nem percebi o tempo passar. Perto da hora do almoço Bia voltou. Eu sentia uma certa ansiedade para saber as primeiras notícias do nosso futuro bebê. Como foi? Tudo bem, ela disse, colocando na minha frente, sobre a mesa, uma pequena caixa com a marca de uma loja de roupas de criança. Abri e vi um daqueles macacões coloridos que têm os pés, que deixam os bebês engraçadinhos. Lindo, Bia! Ela sentou na cadeira a minha frente e colocou mais uma caixa sobre a mesa, igual à primeira. Nós tínhamos uma vida confortável, mas bastante regrada quando se tratava de finanças. Não dava pra fazer grandes exageros. Mais uma, Bia? Mas já saiu gastando, assim não vai dar, tem que maneirar desde o começo, senão já viu, pô Bia! Fui abrindo a caixa enquanto falava e tirava lá de dentro uma roupinha idêntica à primeira, só que com cores diferentes. Quando levantei meus olhos, Bia estava com seus olhos mareados. Achei que tinha falado demais para uma futura mãe, empolgada com a primeira gravidez. Mas ela tinha uma expressão estranha no rosto. Olhei bem para ela, recostei na cadeira, olhei para as roupinhas na minha frente. São dois? Perguntei, dois? Gêmeos?? Ela fez que sim com a cabeça, sem conseguir segurar o choro. Eu me levantei para abraçá-la, já misturando o choro ao riso.
Saímos andando pelo apartamento falando, rindo, chorando, nos abraçando. Fazíamos perguntas sobre como poderia ter acontecido, se havia antecedentes na família, o que poderia acontecer dali para frente. Só no dia seguinte Bia me contou que teria que fazer outro exame por que seu obstetra ficara na duvida em relação a uma sombra que havia visto mas que seu aparelho não permitia definir. Poderia ser mais um. E essa notícia se confirmou sete dias depois. Seriam 3!!! São 3!!!
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2 comentários:
ah, puxa, fiquei emocionada lendo.
oi! sou nova por aki, hehe... acabei de ler esse post e as lagrimas me vieram aos olhos ao ponto de eu ter q me concentrar para que não caissem! parabens!
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