junho 24, 2008

Pai d’égua

Ter trigêmeos foi um acontecimento tão grande pra mim que me transformou num paizão. Acho que seria um acontecimento grande pra qualquer um, acho que é um grande acontecimento, com poder transformador mesmo. Eu já tinha um grande desejo de ser pai, talvez tivesse uma aptidão natural pra lidar com crianças, por que sempre gostei dos pequenos, mas ser pai de tri me transformou.

Bia sempre me diz que eu tenho esse dom de cuidar, de educar crianças, de lidar e brincar com elas, que sou um paizão. Sinceramente, não acho que eu seja um paizão, não. Pra pai de trigêmeos me considero um pai bem normal. Também não acho que seja dom, acho que foram qualidades que adquiri e desenvolvi ao longo da vida. Sempre fui muito atento às coisas que me diziam, aos comportamentos que me mostravam como certos, aos padrões de educação. Como minha infância foi naquele quintal no Brooklyn, ficava muito tempo dentro de casa. E como a casa estava sempre cheia de mulheres, aprendi muito com elas. Talvez isso não seja muito diferente da educação de qualquer menino no Brasil, deve haver vários tratados de sociologia falando sobre a estrutura matriarcal da família brasileira. O homem sai de casa e as mulheres tomam conta de tudo.

Parêntesis: uma das coisas que aprendi na infância, de olhar, foi cozinhar. Eu gostava de ficar olhando como se preparavam as coisas, os pratos e então aprendi criança o básico da coisa. A Babá foi uma grande professora. Não evolui muito ao longo do tempo, mas quando se tem a base, fica mais fácil. Depois vieram os programas de culinária na TV e então voltei a aprender olhando.

Bom, então eu tinha aquela aptidão pra ensinar, educar, tratar com crianças e com o trio mergulhei de cabeça nisso. Ao mesmo tempo em que me preocupo com a formação deles como pessoas íntegras [isso significa, portanto, que dou bronca, ponho de castigo, oriento da maneira que considero a melhor e da melhor maneira que posso – frase do meu cunhado: “a gente faz o que pode...”] entro de cabeça nas brincadeiras com eles, participo pra valer do universo infantil deles [isso quer dizer que tenho meus momentos de parecer um bobalhão – frase da mídia: “não basta ser pai, tem que participar...”].

Acho que uma das contribuições importantes que tenho dado em relação a educação dos trigêmeos é ter certeza daquilo que estou fazendo. Ter uma postura firme, clara e uma atitude franca e sincera é uma das coisas mais importante pra lidar com crianças. Eles precisam muito disso. Não estou dizendo que não tenha duvidas em relação às escolhas que faço na educação deles mas estou sempre seguro do que estou fazendo no momento, mesmo que depois tenha que rever o que foi feito. E quando a revisão é feita, também é necessário estar seguro.

Outro dia li um texto que falava que somos a primeira geração que é dominada pelos filhos. Dizia que somos a primeira geração que não obedeceu aos pais e a primeira geração que obedece aos filhos. Eu achei uma bobagem. Pelo menos não me reconheci nessas afirmações. Rebeldes sempre houve, em todos os tempos, assim como pais que não sabem como lidar com seus filhos.

De qualquer forma, tenho uma relação muito legal com os 3. Uma relação de respeito mútuo. Sim, eles me respeitam quando falo o que tem e como tem que ser feito, mas também respeito o espaço individual de cada um deles, as manifestações da personalidade de cada um. Eles sempre serão meus filhos sim, mas vai chegar o dia que não me quererão por perto e ainda o dia em que eu não estarei por perto.

Bom, basta do momento auto-ajuda!

Nota explicativa: quis brincar com a idéia de paizão usando uma expressão que contivesse a palavra pai. Apesar de não fazer parte do meu vocabulário pessoal, usei pai d’égua, expressão muito utilizada no norte e nordeste do país, que significa algo em torno de bom, grande, etc.

2 comentários:

Anônimo disse...

Octavio,
voce eh um pai maravilhoso....as poucas vezes que eu vi voce em acao foram muito marcantes - coisas simples como voce conversando com eles quando eles quase nao falavam.....explicando tudinho....e ouvindo e respeitando a 'resposta' deles.....foi 'endearing' (nao acho agora uma palavra em portugues....)
quanto a educacao eu concordo totalmente - este negocio de pais dominados por filhos so existe em algumas familias - o estilo antigo ainda funciona por aqui - e recebo muitos cumprimentos pela educacao dos meus....voce vai ver que depois vale a pena ter feito como voce esta fazendo....
(adoro seu blog!)
beijos
Mana'

esteblogminharua disse...

De passagem, encontrei seu blog e gostei. Parabens pelo Dia dos Pais, vc que e' pai de trigêmeos.
Franz(http://esteblogminharua.blogspot.com)