junho 16, 2008

Fraldas, fraldas, fraldas...

Esse texto escrevi no final de 2006, depois que terminei minha tese. Mostrei pra algumas pessoas que gostaram. A idéia, então, era começar e escrever essa minha história com os trigêmeos. Mas, no fim, comecei a fazer outras coisas e não dei continuidade ao projeto, só retomado agora com o blog.

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Essa era uma área com a qual não me dava bem, não conseguia entender, e ainda não entendo, essa fraqueza do ser humano. É demais, o cheiro, a situação, a idéia da fralda, o perigo de resvalar a mão naquela coisa gosmenta e nojenta, não sei...ter que limpar a bunda de alguém é, pra mim, coisa do outro mundo. Era! Hum, vocês podem imaginar...

Era, porque com três de uma vez não tem jeito, tem que entrar na dança. E não dá pra ficar só na figuração, tem que ir lá e ser protagonista, colocar a mão na massa pra valer. Não tem desculpa não! Paguei meus pecados, a língua e, pelos meus cálculos, estou com crédito nesse quesito, resta saber como e em que vou poder usá-lo. E a fase de tirar a fralda, sabe o que é isso? É, você pode até saber, mas com três é muito, muito pior. Passo mais horas no banheiro olhando pras crianças sentadas naquela privadinha, um piniquinho incrementado, perguntado ‘já fez?’, ‘tá saindo?’, ‘vai fazer?’, do que lendo o jornal. E quase nunca dá certo, não fazem nada, quando fazem fizeram antes de chegar, enquanto você corre com eles pro banheiro ou depois, quando você já está recolocando a calça neles. E depois, se fazem, tem que limpar o pinico, jogar aquela coisa na privada e chamar a criança pra ver o troço descer, ‘vamô falá tchau pro cocô!’. Desculpe, mas acho isso uma tragédia!

Com três é uma loucura. Quando um faz cocô, mesmo que na fralda, os outros querem ver. O que fez também quer ver. O cocô desperta uma curiosidade impressionante, é uma obra, tem que ser admirada. Ai você vai lá e tira aquela fralda, com todo o cuidado pra não provocar nenhum acidente mais grave, mais grave do que um cocô na fralda. Sim, o cocô na fralda é um acidente grave e existem outros muito mais graves. Virar a fralda sem querer, deixar cair a obra por cima do trocador, no chão ou em cima da assistência. Claro, tem platéia, os outros dois olhando atentamente, de perto, bem de perto, ‘quero vê, quero vê!’. E o cheiro? Nossa...não tem nada pior! Que horror! Eu não agüento, prendo a respiração, fico gemendo, sofrendo, querendo acabar logo a árdua tarefa, mas com um cuidado danado. Faço tanto estardalhaço, que as crianças começaram a me imitar. Era deitar um deles pra trocar que eles já começavam a gemer. Um sarro! Bom, aí você dobra a fralda fazendo um tipo de envelope que guarda o material e evita que ele contamine tudo ou joga tudo na privada pra dar aquele tchau tão esperado. Limpa o bumbum da criança, passa uma pomada se for necessário, coloca outra fralda. E o cheiro fica...fica no ar, no nariz, sei lá onde, mas fica. E por um bom tempo.

Tirar a fralda de três não é nada fácil. Primeiro porque cada um se desenvolve de um jeito diferente, num ritmo diferente de amadurecimento. A Laura, como todas as meninas, vai puxando a fila e vai indo bem. Os meninos ficam de olho, prestando atenção em tudo, mas como todos os meninos, são mais distraídos, são mais aéreos, vão mais devagar nessas coisas. Acho até que são mais apegados às suas obras que as meninas, mais possessivos, gostam mais dessa coisa escatológica. A cada cocô dão risadas, falam coisas, comentam, ‘credo!’, dizem. Outro dia, num fim de semana, estavam os dois meninos sem fralda, só de calção. De repente, um fica meio sumido. Quando vamos ver, tá brincando na sala e, no chão, ao lado de seu pé, um belo troço, bem formado, que deixou um rastro em sua perna, emporcalhando o calção, tudo. Tragédias assim são comuns, as chances de acontecer uma por dia são enormes. É, acho que vão demorar mais pra tirar a fralda.

Mas já está mais do que na hora. Eu me sinto no limite de trocar fraldas, estou quase dizendo chega, jogando a toalha. Não é brincadeira não. São 30 meses de fraldas, numa média, por baixo, de 15 fraldas por dia. Isso significa que, por mês, gastávamos 450 fraldas, o equivalente a uma média de 12 pacotes. Bem, multiplique 450 por 30 e vai ver quanto gastamos até hoje. São no mínimo 13.500 fraldas ou 360 pacotes. Sabe o que é isso? O mesmo que jogar pelo lixo metade de um carro popular zero, ou uma viagem do casal de vinte dias pra Europa ou ainda a reforma da cozinha que queríamos fazer. Isso tudo literalmente jogado no lixo, na latrina, virou esgoto, virou merda! Sem chance de reciclar.

Bom, isso só pra falar de fraldas. Com 2 anos e meio as crianças estão a mil por hora. É preciso ter muita energia pra acompanhar o pique deles. Desde que eles nasceram, passamos por muitas coisas, muitas fases diferentes. Todas passam, todas assustam, todas cansam. E muito. A cada nova fase, preparamos a estrutura necessária pra que passe da maneira menos traumática e dolorosa possível, tanto pra eles quanto pra nós. Sempre que encontramos outros casais que tem um filho da mesma idade ouvimos a mesma frase: ‘Mas como vocês conseguem? Nós com um só estamos quase ficando loucos!’ Nessas ocasiões temos duas reações, depende de nosso estado de espírito. Se estivermos bem, de bom humor, a vontade é rir enquanto dizemos ‘com um só vocês estão no paraíso’. Se estivermos cansados, o que é mais comum, ficamos olhando com cara de espanto e a vontade é pular no pescoço de um deles e esganar, por que um só, me desculpe, é baba! Outra coisa que escutamos muito, essa de casais com filhos mais velhos, é associar uma idade das crianças com dias menos turbulentos e com menos trabalho. ‘Ah, quando começarem a andar vai ser melhor’, ‘depois que tirarem a fralda vai melhorar’, ‘com quatro anos, vocês vão ver como é bom’, ‘depois dos sete anos é uma beleza’. Eu, sei não, sou bastante cético. Acho que não tem jeito, melhorar mesmo, acho que só topando a parada. Tá na chuva é pra se molhar, não tem saída. Se não pode contra eles, junte-se a eles.

8 comentários:

K disse...

Adorei o chapéu de fralda! Ficaram uma gracinha... Imagino o desespero que dava ter que trocar tantas fraldas. Lá em casa, nosso cachorro está velhinho e deu pra fazer tudo o que precisa em casa. Eu limpo o chão todo e, uma hora depois, lá tá aquele litro e meio de xixi pelo chão (é grande o cachorro). Acordo e a cozinha é uma piscina de xixi. Tem dias que tô mais compreensiva e penso "coitado, não é culpa dele", mas juro que tem dias que tenho vontade de jogá-lo pela janela e me livrar do problema. É um cachorro e não são fraldas, mas é uma responsabilidade da qual não temos escapatória e que dá um certo desespero às vezes. Pelo menos é um bom estágio para quando os filhos vierem (um de cada vez, de preferência...).

Beijo,

K.

Anônimo disse...

Octavio,

Vc vê como as coisas mudam... agora a gente escuta ... - Já fiz...

beijão
bia

Anônimo disse...

Otavio,
Na boa, não importa muito a quantidade, merda é merda!
Dei um monte de risadas com a sua história, pois me fez lembrar de vaaaaaárias do Martim! Nem todo mundo conta, mas acredito que todos passamos por isso!
E quer saber, acho importante, nessa hora, por mais urbanizados, civilizados, sofisticados que sejamos, somos todos iguais!!
beijão
Tete

Cecilia Brandao disse...

Otavio,

Dei muita risada com o seu relato - ta, eu sei, m. na casa dos ouytros eh moleza - rsrsr... A fase de tirar a fralda para mim foi a pior mesmo. Aff, quanto xixi no sapato... kkk Vc e a Bia tem PHD no assunto - rs
A foto do chapeu de fraldas esta simplesmente otima!! Tbem gostei muito da ideia dos ladrilhos!

abracos

Cecilia

O Lacombe disse...

K e Cecilia,
ainda vou contar essa do chapeu de fraldas...aguardem

Tete,
o contato essa coisa humana, visceral, comum a todos eh que nos faz lembrar o quao nada eh todo o resto que nos rodeia...

Bia,
o ja fiz eh uma das frases que mais ouvimos hoje em dia. Ate quando isso vai? ate os 7 anos? Nossa...

Anônimo disse...

Ah, chorei de rir na parte do dar tchau para o cocô, tenho um filho que está aos 2 anos ensaiando a saida das fraldas, ele faz a mesma coisa e acha o mááááximo.

Boa sorte para vocês!

Os pequenos estão lindos!

Thaís Rosa disse...

Adorei esse post, meio tragicômico, muito bom. Vou mostrar pro maridón, que reclama que troca muita fralda do nosso único filho!!!
beijo

soninha disse...

O que posso te dizer meu amigo, são as mesmas palavras que a minha falava:"filhos criados, trabalho dobrado!". é verdade! Mas vocês irão tirar de letra. Adorei o texto!bjs