Parti para Boston [Merdon, como diziam os amigos que não queriam que eu fosse], Cambridge na verdade, onde me integrei a Escola de arquitetura do MIT, uma das melhores escolas do país, que conta com a maior e mais antiga biblioteca de arquitetura e, na época, tinha um dos programas de doutorado mais inovadores, propondo cruzar computação e projeto. Saí daqui com o primeiro semestre pago, mas, como se diz por aí, com uma mão na frente e outra atrás. Mesmo assim, achei que iria ficar os próximos cinco anos morando na costa leste americana. Fui morar na própria universidade, num dormitório para estudantes de pós-graduação. Era um pequeno prédio localizado do outro lado da rua onde ficava a entrada principal do imponente edifício da escola de arquitetura que eu iria freqüentar. Tinha apenas 6 andares, arquitetura vitoriana, com quartos para duas pessoas e cozinha coletiva em cada andar. Cada um tinha que ter sua geladeira, no quarto. Os estudantes vinham de todos os lugares do mundo. No porão do prédio, um bar daqueles que vende cerveja barata [na jarra, o pitcher] e batata chips. A adaptação não foi muito difícil e o bar foi uma grande ajuda.
O dinheiro era tão curto que em três meses me transformei num espeto. Eu que nunca fui gordo, estava esquálido, cadavérico. Um horror, que só iria piorar. Eu mesmo cortava meu cabelo, o que colaborava para me dar um aspecto bastante esquisito. Sorte minha que esquisito ali no MIT era coisa normal. Atendi as aulas necessárias e as eletivas, freqüentei a biblioteca, as palestras semanais, as atividades do dormitório onde morava. Arrumei um emprego de meio período nos arquivos das bibliotecas, que guardavam volumes antigos de anais de congresso, revistas científicas e livros pouco procurados. No meio tempo, buscava de todos os meios uma bolsa para poder continuar freqüentando a escola e concluir meu projeto. O primeiro semestre passou e a bolsa não se viabilizou.
Passei o dia de ação de graças com Marta, minha irmã, que ainda hoje mora sozinha na pequena Colorado Springs, no Colorado, com dois filhos menores. Colorado Springs é uma daquelas pequenas e complexas cidades americanas. Com uma natureza exuberante, bases militares, um parque tecnológico em expansão e um grande número de ativistas políticos, a cidade tem uma infra-estrutura maravilhosa para cerca de 300 mil habitantes. Foram 4 dias de descanso familiar, de boa comida, boas conversas com seus amigos. Voltei para a universidade e passei o natal e o ano novo sozinho com uma espanhola de Santiago de Compostela, uma italiana da Sardenha, um italiano de Parma e dois argentinos.
Meu namoro com Bia seguia pelo telefone e por cartas que ela me mandava todos os meses com alguns dólares dentro. Nessa época ela havia deixado a academia de squash para começar uma carreira na hotelaria. Trabalhava em plantões noturnos como recepcionista de um hotel no centro da cidade. Usava seus dias de folga para dormir e beber umas cervejas com os amigos que convidava para a casa de seus pais. Tarde da noite ela me ligava e chorávamos juntos.
[Nunca pensei que fosse passar por isso, namoro à distância. Foi difícil, fiquei triste, me sentia sozinho. Mas aprendi muito com tudo isso]
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