Em fevereiro Bia tirou dez dias de férias e foi me visitar. Fui ao aeroporto esperá-la num dia de nevascas na costa leste. O aeroporto estava fechado e seu avião desceu em Nova Iorque. Ao invés de esperar as graças do clima, Bia seguiu alguns americanos e tomou o trem para Boston. Eu fiquei completamente sem notícias até que o pessoal da portaria do dormitório me ligou dizendo que havia uma pessoa me esperando no saguão. Era Bia. Estava linda, toda de preto, magra com seus cabelos dourados. Depois de 5 meses nos reencontramos.
O dormitório tinha um quarto de hóspedes que alugava para parentes dos estudantes moradores, a preços extremamente módicos. Se não me falha a memória, custava em torno de US$15 dólares por dia, uma pechinha e tanto. O quarto ficava no térreo e dividia um banheiro sem chuveiro com as dependências coletivas, inclusive do bar no porão, através de um pequeno vestíbulo. O detalhe é que nem a porta do vestíbulo nem a do quarto tinham chaves. Ficamos ali uma semana e colocávamos calços nas portas para ter um pouco de segurança em nossa privacidade. Claro que isso não impediu que fôssemos surpreendidos por mais de uma vez por pessoas querendo aliviar suas necessidades naquele lavatório. Passamos ótimos dias juntos, mas eu já estava desanimado com o andamento de minhas buscas por uma bolsa e disse a Bia que voltaria com ela para o Brasil.
Bia disse que não, que queria vir morar em Boston, que eu tivesse confiança que a bolsa iria sair. O problema é que não tinha o dinheiro para saldar o ano. Bia se comprometeu a ajudar, a fazer um cata no Brasil, mas acabou arrumando o dinheiro com seu pai. Que ótimo começo com o futuro sogro, não poderia ser melhor. Acabei não ficando até o final do segundo semestre e em maio estava em casa.
[Uma das sensações mais aterradoras por que passei. Era um projeto que ficava pelo meio, sem fim. Foi ruim, muito ruim. Mas acho que faltou um pouco de paciência, talvez eu pudesse ter ido no ano seguinte...]
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