abril 28, 2010

o que eles fazem ali?

Tão quietos? Lá de dentro, da sala, só dá pra ver o alto da cabecinha dos tres, sentados no sofa. As cabecinhas se mexem um pouco pra lá, um pouco pra cá. Eles falam coisas que não posso escutar por causa da distância. O que eles estão fazendo? Provavelmente vendo alguma coisa bastante interessante, uma vez que estão entretidos, concentrados, quietos. Acho a imagem bonita e me faz parecer que vale a pena pegar a máquina fotográfica e registrar o momento. Tiro uma foto, duas, de onde estou, de onde vejo só o alto da cabeça deles. Resolvo então levantar movido também pela curiosidade. E vou me aproximando devagar, pé ante pé, sem fazer barulho, até poder ver o que estão fazendo. E vejo que estão lendo um pequeno livro. Olho atentamente e percebo que o livro não tem palavras, apenas imagens.

Penso, então, que deve ser uma experiência aterradora estar num lugar onde não se entende palavra alguma, nem lida, nem falada. Deve ser brutal a sensação de estar cercado por pessoas que falam uma língua incompreensível. Como têm sido bravos esses tres pequenos! Todos os dias, há mais de dois meses, eles vão a escola, mergulham nesse mundo estranho, novo e ininteligível. E desde o primeiro dia nunca os ouvi reclamar ou dizer que hoje não quero ir ou coisa parecida. Pelo contrário, os tres vão animados, se preparam com entusiasmo, se preocupam com o horário, tomam cuidado para não perder o horário do onibus.

Deve haver uma compensação muito grande envolvida na experiencia que estão tendo. A sensação da descoberta, do novo, estar entre os pares, os iguais da mesma idade, a experimentação, não sei. Vão e voltam da escola com alegria, as vezes efusivos até! Bravos! Eles são bravos! Eles leem o mundo a sua volta por imagens, gestos, sons e tons, expressões faciais, sinais. Eles leem e interpretam um mundo em que as palavras pouco significam. É o que fazem agora, com esse pequeno livro.

Os tres têm enfrentado com galhardia essa grande mudança. E olho pra eles tentando compreender de onde tiram essa leveza. Enfim, é o que eu gostaria que todos nós, adultos, pudessemos aprender desses pequenos e sua natural valentia: enfrentar as novidades, os desafios, as mudanças com mais naturalidade. Motivos não nos faltam.

17 comentários:

Soraya Wallau disse...

Nossa, vc colocou em palavras tudo, tudo o que nós vivemos aqui alguns anos atrás e foi justamente essa valentia que você nos descreveu que nos fez insistir, mesmo nos momentos em que tudo era muito difícil. Dias lindos virão, dias estranhos tbm, mas saiba que tudo é superável, esses pequenos nos dão forças para continuarmos.
Bjo bem grande pra vcs!

mimi disse...

Definitivamente até hj meu post favorito.
Só posso dizer parabens para os 3 bravos mosqueteiros
bjs
mimi

guguta disse...

Fico me perguntando se voce nao enxerga de onde vem tanta "bravura".Olhe-se e tambem para a Bia, com que coragem teem enfrentado tudo.Eu como testemunha posso dize-lo.Teem muitos exemplos em voces e tambem um pouco da Vovo que com muita coragem tambem deixou tudo para tras sem pensar em nada!E vamos vencer!!!!!!! Vovo Guguta com muito orgulho de todos.

Anônimo disse...

Vc não imagina como esse post foi importante para mim!!! Estou vivendo um momento de muito desafio e às vezes me pego lamentando... preciso me inspirar no exemplo dos trigemeos!!! são guerreiros!!!

Paloma Varón disse...

Que lindo texto, Otávio, um relato perfeito do que estão vivendo, com todas as dificuldades e sempre muita poesia. Estes meninos têm muito a ensinar a todos nós, com certeza.
Beijos

Jussara disse...

Muito lindo esse post. Só vc com sua sensibilidade pra captar esse momento tão especial que eles estão vivendo e colocá-lo tão bem no papel. Deu um aperto saber que eles estavam vendo um livro só de figuras. Bastante simbólico. Chorei lendo o texto.

E a vovó Guguta arrasou no comentário, hein?! Concordo totalmente com ela. Já disse aqui, mas repito: sou fã da vovó Guguta :).

Um beijo para a grande e guerreira família.

LuLu disse...

Seu texto de hoje foi como uma pedrada na minha turrice. E como sou turrona! Como tem sido dificil pra mim viver num ambiente de palavras novas, expressoes novas, gente nova.. tudo novo! Como eu resisto!
Deuses, preciso aprender a ser criança de novo.. URGENTEMENTE!!!

Obrigada pela inspiraçao, Octavio.
Beijo pra vc e Bia!
Beijo pra essa vovo maravilhosa!
Beijo pros tri-lindos!

Letícia Volponi disse...

Já diz o samba "eu fico com a pureza das respostas das crianças". Filhos são a nossa grande escola!

Anônimo disse...

Octávio,
acho que todos se emocionaram com esse texto tão tocante e de você ter essa sensibilidade de sentir essa leveza e de aprendermos com isso. Belo texto. Obrigada por compartilhar disso conosco.
Também tenho filhos, e estão na terra do sol nascente e entraram sem falar nada do idioma.
bjs
madoka

Anônimo disse...

Octávio,

Eu sou uma leitora assídua do seu blog e nunca me pronunciei (por pura timidez). Mas hoje me deu um nó na gargante com esse post e resolvi que essa seria uma grande oportunidade de começar a fazer comentários por aqui…

Que lindo e inspirador foi esse post… Moro em Toronto há quase dois anos. Amo esse lugar mas, como a Soraya falou “dias estranhos também aparecem”. E nessas horas a gente tem mesmo que se inspirar nessas fofurinhas e encarar os desafios com mais leveza…

Vocês são adoráveis… Desejo tudo de bom pra vocês. Que os anjos acampem ao redor dos Tri, de você, Bia e Vovó Guguta.

É uma delícia ler esse blog (muito melhor que novela da Globo rsrs).

Um abraço,

Mariana

marianaoz@yahoo.ca

Lu disse...

Que gracinha esse post! Realmente, nos temos muito a aprender com eles, q sem reclamar, enfrentam um mundo tao novo, tao diferente... mas eles tem um ao outro, e tem a voces e a vovo Guguta tao fofa e vao tirar td de letra!

Adorei o pezinho encolhido da Laura! :-)

Anônimo disse...

Muito emocionante seu texto Octávio,

Sou sua leitora há quase um ano, mas nunca tinha comentado.
Também sou mãe de 2 meninos de 3 e 5 anos, que de uma maneira menos radical também passam por essa experiência com a linguagem, já que estudam em uma escola americana.
Seus filhos são lindos e muito corajosos.
Parabéns pela bravura dessa família notável

PS: quisera que todas as crianças tivessem uma vovó como essa!
Um beijo nos 6,
Valéria

Anônimo disse...

Bravo!

Robinson disse...

wow!!!
minha inspiração para sexta-feira!
:-)
thanx

Anônimo disse...

Pronto! Consegui eleger o meu post favorito. De todos os blogs que sigo, de todos os posts que li este é o mais mais mais... sei lá. Fico aqui vivendo amostras das experiências de vocês e aprendo tanto! Só tenho que agradecer a vc, Octavio, por compartilhar isso com a gente.
Bjs, Chris e mosqueteiros

Anônimo disse...

Nao consegui terminar de ler, antes das lagrimas rolarem pelos meus olhos... muito bonito.

Anônimo disse...

Olá, Octávio!

Maravilhosos têm sido os seus posts. Sempre que vejo o título, começo a rir e penso "o que vem lá?" . Fico realmente curiosa para saber o que está acontecdo, principalmente como nesse útimo post. A soma de todos esses textos dará um excelente livro, com os nomes dos capítulos exatamente com os mesmo nomes dos posts.

Parabéns para vocês todos pela coragem de enfrentar o novo cheio de desafios....



abraços

Má.