Caro Antonio,
A segunda-feira amanheceu fria, cinzenta, com uma neblina densa e uma chuva fina. Levantei da cama sem vontade, cedo, porque sou eu que levo as crianças pra escola. Não basta ser pai, tem que participar. O cara que inventou isso, aquele da propaganda do Gelol em que o pai acompanha o filho ao futebol e se machuca só assistindo ao jogo, não sabia o que estava fazendo. Enfim, depois que se está na chuva...e hoje foi literalmente o caso.
Então levanto e pego logo o Estadão. Abro e encontro seu texto que leio com prazer. São tantos os articulistas que se revezam nos cadernos do jornal que, confesso, até hoje não decorei em que dia cada um escreve. É sempre com certa surpresa que vejo seu nome lá no alto da página, ‘Ôpa, hoje é dia do Antonio’. É nessa hora que lembro que você é meu primo.
Pois é, nós somos primos, mas não nos conhecemos. Quer dizer, você não me conhece, eu te conheço, porque leio seus textos e sei quem você é. Bem normal isso, na família Lacombe. São tantos primos espalhados entre Rio e São Paulo que não daria mesmo pra conhecer todo mundo. Há uns dias atrás comprei o livro da Loli, não podia deixar de comprar. Afinal se tenho uma filha Laura é por causa dela. Laura, sua avó é uma mulher muito forte, tudo o que faz, faz super bem feito, o colégio, a pousada. Eu queria que minha filha tivesse essa força, esse poder, então coloquei Laura, que era o nome de minha bisavó também. Mas o Mario, meu outro filho, não se chama Mario por causa do Mario Góes, seu avô. O Mario é Mario por causa do meu avô, irmão de seu bisavô Dingo. Calma, ainda não acabou, nem a confusão de nomes da família, nem a lista de filhos. Ainda tenho mais um filho, mas esse se chama Diogo e acho que não há outro na família. Será? Quanto aos nomes da família, vamos deixar pra outro dia.
Bom, me deliciei com o livro da Loli. As histórias são ótimas, mas as receitas são melhores ainda. Reconheci muitas delas que são feitas aqui em casa do mesmo jeito, há anos. Aquele biscoito de chocolate cheio de manteiga é o meu preferido. Faz muito tempo que não vejo a Loli, mas muito tempo mesmo. Sua mãe, então, acho que faz mais de 30 anos que não vejo, desde que nos mudamos pra Campinas. Aliás, minha irmã mais velha também é Marta. O último que vi da família foi Guilherme, o Guelé [será que você o trata por tio Guelé?]. Nem Miguel, que dos seus tios é o que regula idade comigo, nunca mais vi. E olha que somos os dois arquitetos. Como é que ele está? Já deu pra perceber que eu tenho idade pra ser seu tio, embora eu não me convença disso. Meus sobrinhos mais velhos têm por volta de 15 anos, bem mais jovens do que você. Demoramos pra ter filhos aqui em casa...
Olha, seus textos são muito bons. Engraçado como nos últimos tempos acabei trombando com seus textos em outros lugares, como na Runners. É, dou minhas pernadas por aí também, mas sem exagero que é pra não emburrecer muito. Lembro que o primeiro texto seu que li foi sobre boteco, ou sobre as conversas de boteco, que tudo tinha que ser de esquerda, uma coisa assim, tá lembrado? Foi um amigo meu, freqüentador do Bar do Jacaré que me mostrou. ‘Senta aqui e lê isso, você vai gostar’. E explicou ‘é filho do Mario Prata, tem uns 20 e poucos anos e já escreve assim.’ Isso faz uns bons 6 anos, por aí. Lembro que pensei, ‘é, o cara tem a veia do pai’ e disse por meu amigo [que por coincidência, é Mario também] ‘o menino é meu primo’. Desculpa o menino, é coisa de tio, digo, de primo bem mais velho.
Sei lá, depois que li o livro de sua avó me deu uma certa nostalgia da família, me lembrei da gerações anteriores, da vida que levaram lá no Rio, o Rio nos seus tempos de glória. Aliás o seu texto sobre o chuveirão na praia é ótimo. Aí pensei, preciso mandar um recado pro Antonio, pra dizer que ele tem um leitor aqui pelas bandas do interior que é parente dele e tal. Hoje li seu texto no Estadão e decidi, é hoje que vou deixar um recado pro Antonio lá no blog dele.
Taí, Antonio, um grande abraço do primo Octavio. Olha aí, mais um nome que se repete na família por gerações. Manda um beijo pra Loli. Diga a ela que o filho do Noel mandou um beijo, acho que só assim ela vai saber quem eu sou. Ah!, eu também tenho um blog, dá uma passada por lá.
[desculpa, mas o recado ficou meio longo, acabou virando carta...]
*esse foi o comentario que deixei hoje no blog do Antonio.
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8 comentários:
Ah, que legal Octavio, eu não só conheço como sou amiga do seu amigo! Ô, mundo pequeno! se eu estivesse em SP, ia hoje à Mercearia (bar que frequentamos; eu menos, depois que tive filha) falar de vc pra ele, hehehe!
Taí Octávio, o talento para a escrita está na família...
Não vejo a hora de ver voce num livro, num jornal..., como esse seu primo.
oi, tavo.
sou o pai do antonio, o mario.
também acho que você leva jeito pras escritas.
abração.
prata, o pai
Então está explicado: escrever bem é de família...
beijos
Legal... o mundo é redondo né... quando vi que vc tinha escrito pro Antônio logo fiquei feliz... não, ele não é meu parente, mas o pai dele é de Uberaba, e ele faz questão de citar nossa cidade quando pode!!!!
Tbm acho que vc escreve bem! Adoro esse blog!
Beijokas!
Viu só! O Senhor/Doutor Mário Prata concorda comigo.Não adianta, você tem que escrever seus livros, é só uma questão de tempo...
ê família boa pra escrever hein???
Uma curiosidade: O Antônio já te respondeu???
rs
Muito legal a história da família ( como li todo o blog de ponta a ponta recentemente, à medida em que fui lendo sua carta fui relembrando os posts que contam algumas coisas com mais detalhes - ótimas histórias, diga-se de passagem).
Que bom que ele te respondeu! Tomara que qualquer dia a grande família faça um encontrão.
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