maio 31, 2009

Vovô Noel [1]

Sempre que me perguntavam quem era meu pai, de quem eu era filho ou, simplesmente, o nome de meu pai, eu respondia a verdade: papai Noel. As pessoas, incrédulas, riam, faziam troça. Mas era apura verdade, eu tive o privilégio de ser filho de papai Noel. E a marchinha ‘Eu pensei que todo mundo fosse filho de papai Noel...’ me parecia por vezes ameaçadora significando a perda desse privilégio, mas por outras me parecia completamente natural, sim todos deveriam ser filhos dele.

Noel era um cara diferente. Aliás, como toda a sua família, formada por pessoas geniosas e de personalidade forte. Noel não se cansava de contar as historias desses personagens. Só pra dar um exemplo, seu avô Domingos não andava para trás mas nem por decreto. Saltava do ônibus sempre um ponto antes do lugar a que estava indo e se porventura o carro em que estivesse como passageiro fosse dar marcha a ré, mesmo que apenas para estacionar, ele bradava: ‘Pare! Me deixe descer imediatamente!’ E assim era feito. Andar pra trás dava um azar danado, segundo ele.

Noel era apelido de Manoel Arthur, filho de Mario e Albertina, ele carioca, ela pernambucana. O irmão de Mario, Domingos, casou-se com Anunciata, irmã de Albertina. Eram muito próximos. Noel teve 2 irmãos, Mario, o Marioto e Antonio, o Toni. Toni ainda está vivo e bastante forte. Os irmãos eram muito diferentes, mas se davam muito bem. Marioto gostava de diversão, jogos, era alegre, brincalhão, de bem com a vida. Toni era apaixonado por carros e desde pequeno freqüentava oficinas mecânicas. Noel gostava de guardar, juntar, colecionar, contabilizar, comerciar.

Ele contava que na fazenda do avô cada neto tinha um pé de Abiu. Quando todos já tinham consumido todas as suas frutas, Noel ainda as tinha e provocava a cobiça dos outros. O que fazia então era armar uma pequena barraca para vender as frutas, o que lhe rendeu o apelido de Mané Tendinha e a antipatia dos outros. Certa vez, os irmãos, mais velhos que ele, o chamaram pra brincar. Como ele era sempre colocado de lado nas brincadeiras, ser chamado assim era a glória. Foi. Mandaram-no entrar numa caixa, grande, fecharam. Colocaram a caixa num buraco e já iam jogando terra por cima quando alguém apareceu para salvá-lo de ser enterrado vivo pelos próprios irmãos.

Noel cresceu no Rio dos anos 30 e 40, a capital do país, uma cidade cosmopolita que resumia a identidade do Brasil, era o centro de tudo. Estudou no exterior, onde viveu por 6 anos no período do pós segunda guerra, voltou, levou uma vida de playboy por 2 anos, dividindo seu tempo entre o trabalho em São Paulo e os fins de semana no Rio. Não gostava de praia, onde ia de meias até a beira d’água. Em São Paulo freqüentava os amigos de seu irmão mais velho, Marioto, onde jogavam buraco, pôquer e pif-paf a dinheiro, mas por pura diversão entre amigos, ninguém ficou pobre ou rico nessas jogatinas familiares. Um dos casais amigos de Marioto, Octavio e Martha, tornaram-se grandes amigos de Noel. Eles tinham uma filha, então com 17 anos, Maria Augusta, que tinha horror ao Noel. Ele era feio e velho para ela, afinal ele era 10 anos mais velho do que ela. Tantas fez Noel que acabou conquistando a moça. Casaram-se. Noel não era um cara bonito, mas charme tinha de sobra.

4 comentários:

Eliane disse...

Esse "tal"de Noel, deve ter sido um homem apaixonante, destes que vc fica horas junto, só para ouvir suas estórias.Bjcas para vc filho do papai Noel.
Eliane

sonia a. mascaro disse...

Você escreve tão bem! Gostei de conhecer um pouco de sua história e a do Vovô Noel, que certamente iria adorar conviver com os seus trigêmeos!
Bjs.

Soraya Wallau disse...

Oi Octavio, meu pai também é Manoel e todos falavam q eu tinha sorte de ter um Noel no Natal, eu nem precisava mandar cartinha, pois ele sempre sabia o q eu queria. hahaha.
Bjo bem grande e muito obrigada pela história!
Família é uma coisa muito boa, né?!

Glória disse...

Octávio,
O seu pai era um querido..., e você tem muito dele...
Não, ele não era feio, é que a sua mãe era estonteantemente linda! Elegante... Poderosa! (e continua sendo, pelo que vi nas fotos do Blog)
Ela nos deslumbrava... não podíamos evitar, não conseguíamos tirar os olhos dela. Tenho a impressão que até a seguia pela chácara, pela casa, admirando-a, aproveitando os raros momentos que eu tinha ao lado dela.
Pensando agora sobre isso, será que cheguei a incomodá-la ? Será que alguma vez ela teve que me despistar, e planejar uma fuga rápida para um esconderijo ?

Hum...isso dá asas para uma estória infantil...
Era uma vez...