junho 24, 2009

caixinha de leite

Foram tantas as peripécias com leite ao longo desses 5 anos que hoje sinto até falta do movimento em torno do assunto. Mamadas no peito de 2 em 2 horas pra 3 de uma vez não era mole. Claro que deu certo por pouquíssimo tempo, enquanto Bia teve resistência física pra isso. Passamos a fazer um revezamento, a cada 2 horas um deles mamava no peito e os outros 2 mamavam uma pequena mamadeira de NAN. Até hoje guardo as anotações que fazíamos sobre como estava reagindo cada um. Tínhamos um quadro na parede do quarto dos 3 onde anotávamos tudo a cada dia e depois passávamos para um caderno pra poder acompanhar a evolução deles no longo prazo.

Passado um ano dessa maratona, introduzimos o leite de vaca. Na verdade leite de caixinha, porque aquilo não é leite de vaca. Tudo bem, claro que é, mas convenhamos, um produto perecível como o leite agüentar sem geladeira até 6 meses na embalagem? Tem algo diferente aí, não tem não? Eu sempre dizia ‘isso não é leite, isso e água, dá na mesma’. Quando eles ficavam entupidos, encatarrados, para o horror de muitos, eu misturava meia mamadeira de água filtrada no leite. Isso foi na época daquele escândalo do leite, quando descobriram que as cooperativas adulteravam o leite, misturando soda cáustica, em meados de 2007, lembra?

Nessa época, eles mamavam muito. Era uma coisa absurda. Eu ia aos mercados de atacado e comprava 9 caixas de leite, daquelas que vêm com 12 caixinhas de 1 litro. Era fogo, mas mesmo assim foi um alivio no orçamento sair do NAN pra caixinha. Mas não é de leite que quero falar, já falei disso antes. Quero falar da caixinha do leite.

A caixinha do leite sempre me incomodou. E muito. Nunca entendi como é que um produto essencial como o leite podia ter uma embalagem tão precária. Como é que abre aquilo? Corta uma ponta, duas? Como é que segura pra servir? Por cima, por baixo, aperta, não aperta? Como é que serve sem derramar? Se cortar uma ponta, na hora de servir o leite vem em golfadas que vão além do recipiente em que se quer derramá-lo. Se cortar duas pontas, o leite escapa pela abertura que fica atrás. O fato de ter que usar uma tesoura pra abrir a embalagem já é um atestado negativo contra ela.

E na hora de guardar, o que se faz com as pontas abertas? Dobra-se. Pra cima ou pra baixo? Existe uma convenção de que se deve dobrar a ponta pra baixo. Todo mundo faz isso automaticamente. Mas então vaza leite! Eu dobrava pra cima pra evitar o vazamento, mas mesmo assim não é um fechamento ideal. Pior que a caixinha de leite, só mesmo o saquinho. Como pode uma embalagem de um líquido que não para em pé? Como pode uma embalagem que não funciona por ela mesmo, sem ajuda de acessórios?

Por causa desses inconvenientes da caixinha [e também do saquinho], inventaram uma série de acessórios pra caixinha: um bico com tampa que se atarrachava com rosca, um suporte com base e alça pra segurar e servir e outros que sempre considerei absurdos. Uma embalagem deve se bastar, deve cumprir sua função, deve ajudar o usuário no momento de utilizar o produto e não se tornar um empecilho, um problema que demanda o uso de ferramentas e acessórios.

Como arquiteto, posso dizer que entendo um pouco de embalagem por que, embalagens são design puro, resultado de um projeto. O objetivo de uma embalagem é ser funcional, prática, de uso fácil. Ao mesmo tempo, deve ser bonita, agradável aos olhos, ao tato. Há as que privilegiam a funcionalidade e há as que privilegiam a beleza. Uma boa embalagem deve equilibrar funcionalidade e beleza e isso se expressa através da forma. Outro aspecto das embalagens é que devem ser pensadas da produção ao consumo, ou seja, sua fabricação deve atender certos requisitos técnicos que permitam fazê-la em escala, deve permitir armazenamento apropriado e deve propiciar o uso adequado pelo usuário final. Então, qual é a da caixinha do leite?

A caixinha do leite é adequada apenas para a produção. O consumidor final que se vire com ela na hora de usar. Não é o uso que está em questão na caixinha de leite, mas a produção, o armazenamento, o transporte. Acho bastante compreensível que num país como o nosso, fosse necessário encontrar uma embalagem barata e funcional, que permitisse produção e transporte em escala e ao mesmo tempo armazenasse adequadamente, por um longo período, um alimento essencial. Num país pobre como o nosso, o leite tinha que prescindir de geladeira. Ainda tem. Então, além do processo de pasteurização, a embalagem deveria prolongar sua durabilidade.

Leite longa vida! Acho que a caixinha do leite longa vida é boa mesmo, de verdade, pra Tetra Pak, que a produz. Acho que o custo de uma caixinha é maior que de um litro de leite. A Tetra Pak ganha mais que o produtor do leite. Nem pra reciclagem a caixinha é própria, por que é feita de multicamadas de materiais diferentes que não podem ser separados.

Do ponto de vista da saúde pública, do ponto de vista social, do ponto de vista de um país desigual que precisa atender minimamente a todos os cidadãos, a caixinha de leite responda bem. Mas, do ponto de vista do design, é sofrível. Eu, pelo menos, sofri com isso por muito tempo. Mas tenho que admitir que por um bom tempo, essa embalagem com design sofrível resolveu nosso problema de compras e armazenamento. Seria inimaginável comprar leite de 2 em 2 dias ou armazenar outra embalagem que não fosse a caixinha.

Agora os tri tomam bem menos leite. Deveriam até tomar mais. Mas com uma caixa e meia [18 litros] por mês nos viramos bem. Nem Bia nem eu tomamos leite. Somos do café, litros pela manhã. Agora inventei de tomar uns chás. É engraçado vê-los tomando café com leite de manhã, não gostam dos chocolates em pó. Outra coisa que amenizou um pouco o sofrimento foi que achei um leite de caixinha com tampa. Não aquela tampinha tipo bico de pato, que também é ridícula. Achei uma com tampa de rosca! Que avanço! Menos mal! Estou livre da tal caixinha!

5 comentários:

Maura Fischer disse...

Caramba!Você tem toda a razão: essas caixinhas são uma droga!
Outra coisa que sempre me incomodou foi o fato de o leite ser vendido em caixinhas de 1 litro... Aqui em casa somos só eu e meu marido e o leite sempre acabava estragando antes de consumirmos toda a caixinha... E dá-lhe ambrosia! Felizmente lançaram por aqui o Piá meio litro, que tem resolvido bem esse problema!
Boa Noite!
Maura

Blog da Grávida disse...

Leite de caixinha também me dá aflição. Sempre preferi os de saquinho por isso, parecem mais com leite. Também consumi muito leite de fazenda, que uma vizinha traz pra vender na cidade. Mas são muito gordurosos, os de caixinha pelo menos podem ser do tipo desnatado. Agora na gravidez estou muito encanada com leite, pois a médica PROIBIU o consumo de qualquer derivado de leite que não seja pasteurizado (queijo,leite,etc). Daí precisei encarar os leites de caixinha de novo. Mas é assustador ler o rótulo daquilo. Tem tudo dentro daquela caixinha (até leite).
Interessante você escrever sobre isso, pois comecei ontem a preparar um post pro meu blog sobre o assunto. Acho que amanhã coloco no ar. Além dos conservantes, o leite de caixinha tem um outro perigo: a gente pode tomar leite estragado sem perceber. Vou contar isso no post,depois você me visita e lê. Adorei sua análise. Beijinhos para os gêmeos, adoro vir aqui acompanhar o crescimento deles!

Anônimo disse...

Aqui as caixinhas de leite são recicláveis, vou acumulando para levar na escola infantil do meu filho, que posteriormente é revertido em benifício a escola.
No Brasil não se tem essa preocupação com o consumidor, que vai levar o produto pra casa, temos que se virar.
Aqui, o consumidor é exigente, e se não se adequa a ser prático, funcional, etc, não tem vida longa não. Eu acho que o consumidor conquistou isso, por isso, tem que reclamar, ligar sugerindo idéias ao setor de atendimento ao cliente da empresa.
abs
madoka

Glória disse...

Concordo com tudo o que disse.
Mas acho que no caminho para a escola, na volta, não custa voce passar numa padaria e comprar o leite fresco, a cada dois dias...
Vai saber a verdade sobre prazo de validade tão longo para leite longa-vida ?...
Compro a cada dois dias leite A (sinto-me culpada por consumir o mais caro...) fresco, 6 litros. Encontrei um da Nestlé, o Ninho pronto de caixinha. Sabor delicioso. Não conhecia. Mas vou continuar com o fresco.

BLOG DA GRÁVIDA disse...

Publiquei a minha história do leite de caixinha estragado (que por pouco não bebi) lá no blog e coloquei um link para o seu post sobre as caixinhas. Espero que não se importe. Recebi muitos emails agradecendo a dica, e dizendo que agora vão visitar o seu blog também!

Bom fim de semana!

http://blogdagravida.wordpress.com