setembro 30, 2009

atravessando a rua

Tivemos dois dias ótimos no fim de semana. Temperatura agradável, sol, céu azul com algumas nuvens. Bia queria comprar umas coisas aqui por perto então resolvemos passear a pé com os três. O transito estava caótico. Sábado de manhã, sol, dia perfeito, o que é que esse bando de gente estava fazendo dentro do carro? E gente estressada, buzinando, fechando cruzamentos, essas coisas. Acho que Campinas não tem mais jeito, segue os passos de São Paulo. [Escrevi isso num fórum que discute cidades, chamado minha cidade.]

Andamos umas 5 quadras até um armazém pra comprar alguns cereais e castanhas. Depois levamos o trio pra tomar um sorvete. Já perto da hora do almoço começamos o caminho de volta pra casa. Tudo tranqüilo, até então. A uma quadra da praça Carlos Gomes, na esquina da rua General Osório com a rua Padre Vieira, fomos atravessar a rua. Então rola aquela sabatina, todo mundo de mãos dadas, vamos olhar pros dois lados, cuidado, vamos atravessar na faixa de pedestres, essas coisas necessárias para uma boa educação no trânsito.

Olhei pra cima na General Osório, que era a rua a ser atravessada e não vinha carro algum. Falei que podíamos atravessar. Mas foi só colocar o pé na faixa que vejo um carro apontar duas quadras acima e vir descendo em alta velocidade. Na verdade estávamos a dois metros além da faixa, ou seja, tínhamos a faixa entre nós e o fluxo de carros, como se fosse um escudo. Nós estávamos no meio da rua e nada do carro diminuir a velocidade, cada vez mais próximo. Identifiquei o carro como sendo da guarda municipal, azul marinho e resolvi fazer um sinal levantando o braço que segurava as sacolas de compra. Só então o carro começou a diminuir a velocidade e parou a coisa de metro e meio de nós, exatamente sobre a faixa. Caramba, mas o que é isso?

Depois que atravessamos, o guarda passa dando risada e dizendo que a faixa era mais pra cima. Cara de pau, então se não estou na faixa pode passar por cima? Reclamei dizendo que ele estava em alta velocidade e que tinha que parar para os pedestres atravessarem. O guarda retrucou que eu cuidasse de minha vida. Não é incrível? Eu disse que ele deveria dar o exemplo pra população e não agir infringindo a lei. O cara ainda respondeu dizendo que se eu não parasse de reclamar eu iria arrumar confusão pra mim mesmo. Demais! Abuso do poder de autoridade. As pessoas que passavam na rua ficaram indignadas também, os motoristas de outros carros idem.

Sai dali arrasado. Pior. Sai dali com medo, medo de quem deveria estar protegendo as pessoas. Anotei o número da viatura e protocolei reclamação nos canais da prefeitura com a certeza de que nada iria acontecer. Pior, mas pior mesmo, é saber que esse tipo de comportamento é comum, não só em Campinas, mas em várias cidades espalhadas pelo país. As polícias abusam de sua autoridade e desrespeitam a população, quando não agridem de forma violenta. Não é a primeira vez que passo por isso. Da primeira vez foi com um carro da polícia militar. Eu parado na faixa com toda a família reclamei que o carro parou sobre a faixa, na minha frente, ao invés de deixar os pedestres atravessarem. Os policiais vieram tomar satisfação, com caderninho e prancheta pra fazer um laudo do desacato. Caíram em si no meio da conversa. Pode?

Não, não pode. Ou não poderia. Deveria ser diferente. Não gosto de ficar falando dessas coisas aqui no blog, por isso fiz esse outro blog pra tratar dessas pérolas que vemos no Brasil todos os dias. Mas nesse caso acho que tem tudo a ver com a educação dos trigêmeos. Se eles estão nesse contexto, é isso que vão aprender como sendo civilidade e cidadania. Não adianta os pais terem consciência de seus direitos e obrigações, educarem os filhos de acordo com princípios cidadãos porque tudo o que está em volta aponta na direção contrária. Quem leu 1808, do Laurentino Gomes, sabe que sempre foi assim, essa e outras coisas fazem parte da cultura nacional a mais de 200 anos. Enfim, só nos resta lamentar.

[funcionarios da prefeitura pintando faixas de pedestres numa noite de fevereiro na esquina de nosso predio]

9 comentários:

Gloria disse...

Qual a formação necessária para se tornar um policial civil ou militar ?
Eu não saberia dizer.
Qual o salário desses profissionais ?
A impressão que tenho é que são mal formados, mal-educados, desrespeitosos, frustrados, revoltados, impulsivos, inexperintes , imaturos, sádicos e irônicos, inconsequentes, e muito mal remunerados. Sinto-os muito infelizes. Se é que não estão drogados...
Posso até ver a cena :
Os policiais (que descrevi acima)
- Olha só que família linda atravessando na faixa de pedrestres... Vamos dar um susto neles ?

Tenho medo desses caras Octávio.
Eu queria muito, mas não consigo confiar.
Os que eu conheço e são bons policiais, tiveram boa formaçao familiar. São filhos de pais amorosos e cuidadosos.

Soraya Wallau disse...

Infelizmente somos nós os pedestres q temos q tomar cuidado com os carros, senti muito isso qnd fui pra Brasil no ano passado, foi estranho, pois o Arthur não entendia pq os carros não paravam pra gente atravessar, não gostei de ter q explicar um lado tão negativo do nosso país, e essas atitudes das polícias só me faz crer q não adianta ter tantos tipos de polícias se não há qualidade no serviço.
Bjo bem grande

Neural disse...

caríssimo tri-pai,

entendo perfeitamente sua indignação. Desde que a Lucia nasceu eu tenho ódimo mortal das pessoas que potencialmente criem riscos de vida, como quando furam sinal vermelho. Sempre penso "eu poderia ter saído quando o sinal abriu, poderia estar com a Lucia no carro e esse IDIOTA poderia ter batido!"

Outro dia tive tanta raiva que saí buzinando e dando farol alto, sujeito quis parar pra brigar.

Imbecis como esse e como o seu guarda defendem com unhas e dentes seu suposto direito à imbecilidade.

abs,
Renato
http://diariogravido.com.br

Letícia Volponi disse...

Octavio, está certíssimo de reclamar. Eu já fico furiosa quando estou sozinha na faixa de pedestre e os carros não param. Fula da vida quando estou com a Laura. Se fosse no seu lugar com um carro da guarda metropolitana faria um verdadeiro escândalo...
É duro educar nossas crianças quando nos sentimos sozinhos tentando exercer nossa cidadania, né?

Anônimo disse...

eu li o seu texto de manhã, antes de ir ao trabalho. sai arrasada. (vou de bike pro trampo rs). então, voltei agora, e passei o dia pensando um pouco no seu post.
as vezes fico reclamando da dura rotina das escolas públicas daqui: muita formalidade, disciplina, é profissional a coisa em todos os sentidos, muita pressão, que aumenta a cada série que a criança vai progredindo. então é uma estrutura que começa desde o ensino infantil, educar no sentido também de ser um bom cidadão e exercer esse direito. tudo isso pra termos segurança de que os nossos filhos vão sozinhos, em grupos andando até as escolas. não tem jeito, tem que começar de algum lugar, aqui é das escolas. fico que nem vc, arrasada, porque poderia ser diferente aí no brasil, e pra mudar não precisaria de muita grana.
bjs e desculpa o longo comentário.
madoka

Ju disse...

Que situação horrível, Octávio! Eu tb ficaria arrasada, acho que até choraria... Tudo errado. Se não podemos confiar nem nas ditas "autoridades" que deveriam dar o exemplo e nos proteger, em quem poderemos confiar? E provavelmente vc receberá apenas uma resposta padrão para a sua reclamação. É por essa e outras que cada vez mais entendo o desejo de vcs se mudarem para o Canadá, como já li em algum post aqui do blog.

Anônimo disse...

estão pensando em se mudar para o canadá?
abs
madoka

Thais disse...

É o fim! Está tudo errado!!!!!

Liv disse...

Adorei o blog, achei por acaso hehehe. Que filhos lindos, parabéns. ;)