dezembro 09, 2010

trabalho 8: a demissão

No dia seguinte, último dia de trabalho do Justin, eu ia demitir o Laurits. Laurits era um cara complicado. Não gostava do trabalho, acho que considerava pouco pra ele. Além disso tinha outro trabalho e fazia bicos num negócio próprio. Sempre reclamava, dizia que ia sair, que aquilo era horrível, sempre falando.

Encontrei Justin logo de manhã e combinamos o que iríamos fazer. A lei aqui diz que em até três meses você pode demitir o funcionário sem dar explicações. Justin me disse pra ser breve, falar pouco, não dar chance pro cara complicar as coisas.
Tudo bem. Eu tentei ficar frio. Nem três dias no cargo e já demitindo. Não sabia como isso seria visto pela gerência, pelo resto dos colegas, pelo resto do meu time. Mas tinha que fazer o que tinha que ser feito. Às cinco horas o cara chega e eu me aproximo, cuidadoso.

Hey, Laurits, how is it going?
Not too bad.
May I have a word with you? Come with me, please.
Fomos em direção ao escritório do Justin e no caminho, entre as prateleiras, o cara me pergunta:
Where are we going? Can’t we talk here?
No. It’s a private conversation.
What can be more private than this?
Just follow me.


Entramos na sala do Justin e ele estava lá, no computador, como quem não quer nada. E eu fui direto ao assunto.

I want to thank for your time here at the hardware department, but I don’t think it’s going to work anymore. I don’t need your services no longer and terminating your contract at this moment.
What? Why?
I don’t see it working.
Why? Is it personnal?
No. It is about the team.
So it's personal.
No, it is not. I need your employee card back and you have to leave now.
It is personal!


E o cara ficou bravo, uma arara. Apontava o dedo pra mim e dizia que era pessoal. E disse um monte de bobagem. Disse que queria falar com o Justin sozinho e eu disse que isso era com o Justin. Justin disse que não havia nada a ser dito, que a decisão já tinha sido tomada e pediu gentilmente que o Laurits deixasse a sala e a loja.

Ele finalmente saiu, mas foi falar com todo mundo do time, sei lá o que. Ainda deu um bafafá na hora da saída com a segurança e enfim o cara saiu. Baita stress. Voltei pra falar com o Justin e perguntei se estava tudo certo, se tinha feito algo errado. Não, tudo certo, perfeito. E ainda falou que já tinha ouvido outras pessoas falarem do Laurits, reclamarem dele, então havíamos feito a coisa certa.

Cinco minutos depois, enquanto eu ainda falava com o Justin, a Cheryl entrava na sala. O que aconteceu? Como? Por quê? Expliquei tudo, contei como aconteceu. Ela pareceu preocupada e disse que nesses casos a segurança tem que ser avisada antes pra que caso aconteça algo eles possam tomar as providências. Como Justin não tinha me falado nada, eu não podia saber disso. Pedi desculpas por não ter cumprido o procedimento e ainda reafirmei que havia feito a coisa certa demitindo o cara.

No outro dia ela veio falar comigo. Achei que não estivesse contente, mas, ao contrário, me apoiou dizendo que às vezes é preciso tomar decisões rápidas e agir prontamente. Antes cedo do que tarde. The sooner the better!

Acho que a repercussão da demissão não foi das melhores. Talvez tenha colocado algum respeito com o meu time, mas com o resto da loja, não sei. Aqui não é comum demitirem ninguém. As pessoas são deixadas em banho-maria, vão sendo escalados pra menos horas, pra um dia apenas, pra dia nenhum e acabam saindo por si mesmas, eu acho. Tem um pessoal que começou a me olhar esquisito depois disso. ‘No problemo!’ É coisa da vida.

4 comentários:

Ravênia disse...

Octávio, o cara demonstrou no momendo da demissão um certo desequilíbrio. Lógico, não deve ser nada fácil ser demitido mas mesmo assim o profissional deve receber a notícia e assimilá-la dentro dos padrões. Ficou ainda mais clara a necessidade de demissão. Sorte. Abraços em vcs.

Bia disse...

Octavio uma coisa que aprendi aqua no curso de RH eh que vc nun a deve dizer "I" (eu) quando estiver demitindo alguem, "we" (as the team, company, etc) pq ai evita do cara pensar que eh pessoal e tal.
Eu que nesse caso ele tinha um problema pessol pelo emprego que ele queria, mas fica a dica caso vc renga que fazed isso novamente. :)

Bjos

Carlos ( KK ) disse...

Esse Octávio é fera mesmo...
Já chegou dando tiro na estrela do Xerife!

Jussara disse...

Que pena que ficou esse climão. O cara reagiu muito mal à demissão. Mas o importante é que vc teve o apoio de quem precisava ter, e fez o que achava que devia ser feito.