Andamos umas 5 quadras até um armazém pra comprar alguns cereais e castanhas. Depois levamos o trio pra tomar um sorvete. Já perto da hora do almoço começamos o caminho de volta pra casa. Tudo tranqüilo, até então. A uma quadra da praça Carlos Gomes, na esquina da rua General Osório com a rua Padre Vieira, fomos atravessar a rua. Então rola aquela sabatina, todo mundo de mãos dadas, vamos olhar pros dois lados, cuidado, vamos atravessar na faixa de pedestres, essas coisas necessárias para uma boa educação no trânsito.
Olhei pra cima na General Osório, que era a rua a ser atravessada e não vinha carro algum. Falei que podíamos atravessar. Mas foi só colocar o pé na faixa que vejo um carro apontar duas quadras acima e vir descendo em alta velocidade. Na verdade estávamos a dois metros além da faixa, ou seja, tínhamos a faixa entre nós e o fluxo de carros, como se fosse um escudo. Nós estávamos no meio da rua e nada do carro diminuir a velocidade, cada vez mais próximo. Identifiquei o carro como sendo da guarda municipal, azul marinho e resolvi fazer um sinal levantando o braço que segurava as sacolas de compra. Só então o carro começou a diminuir a velocidade e parou a coisa de metro e meio de nós, exatamente sobre a faixa. Caramba, mas o que é isso?
Depois que atravessamos, o guarda passa dando risada e dizendo que a faixa era mais pra cima. Cara de pau, então se não estou na faixa pode passar por cima? Reclamei dizendo que ele estava em alta velocidade e que tinha que parar para os pedestres atravessarem. O guarda retrucou que eu cuidasse de minha vida. Não é incrível? Eu disse que ele deveria dar o exemplo pra população e não agir infringindo a lei. O cara ainda respondeu dizendo que se eu não parasse de reclamar eu iria arrumar confusão pra mim mesmo. Demais! Abuso do poder de autoridade. As pessoas que passavam na rua ficaram indignadas também, os motoristas de outros carros idem.
Sai dali arrasado. Pior. Sai dali com medo, medo de quem deveria estar protegendo as pessoas. Anotei o número da viatura e protocolei reclamação nos canais da prefeitura com a certeza de que nada iria acontecer. Pior, mas pior mesmo, é saber que esse tipo de comportamento é comum, não só em Campinas, mas em várias cidades espalhadas pelo país. As polícias abusam de sua autoridade e desrespeitam a população, quando não agridem de forma violenta. Não é a primeira vez que passo por isso. Da primeira vez foi com um carro da polícia militar. Eu parado na faixa com toda a família reclamei que o carro parou sobre a faixa, na minha frente, ao invés de deixar os pedestres atravessarem. Os policiais vieram tomar satisfação, com caderninho e prancheta pra fazer um laudo do desacato. Caíram em si no meio da conversa. Pode?
Não, não pode. Ou não poderia. Deveria ser diferente. Não gosto de ficar falando dessas coisas aqui no blog, por isso fiz esse outro blog pra tratar dessas pérolas que vemos no Brasil todos os dias. Mas nesse caso acho que tem tudo a ver com a educação dos trigêmeos. Se eles estão nesse contexto, é isso que vão aprender como sendo civilidade e cidadania. Não adianta os pais terem consciência de seus direitos e obrigações, educarem os filhos de acordo com princípios cidadãos porque tudo o que está em volta aponta na direção contrária. Quem leu 1808, do Laurentino Gomes, sabe que sempre foi assim, essa e outras coisas fazem parte da cultura nacional a mais de 200 anos. Enfim, só nos resta lamentar.
[funcionarios da prefeitura pintando faixas de pedestres numa noite de fevereiro na esquina de nosso predio]